Web Summit: Precisamos de um Chief Children Officer

Apesar de já não sabermos viver sem ela, a internet não esteve sempre por perto. É uma invenção relativamente recente e quando foi criada tinha como objectivo ser utilizada exclusivamente por adultos. Hoje, no entanto, faz parte do dia-a-dia de pessoas de qualquer idade, incluindo crianças, o que poderá ser um problema.

Dylan Collins, CEO da SuperAwesome, acredita que os mais novos estão a utilizar uma plataforma desenvolvida para adultos e que os perigos poderão pelo menos igualar os benefícios. A solução? Chris Williams, fundador e CEO da pocket.watch, aponta a educação como elemento crucial para assegurar o bem-estar e crescimento em segurança das crianças. «Seja qual for a tecnologia, temos de ser bons pais, saber controlar e educar», indica o responsável, numa conversa em pleno Web Summit.

Também presente na discussão esteve Darren Shou, VP & head of Research da Symantec, que escolhe a Inteligência Artificial como uma das principais mudanças entre o que era ser criança no século passado e aquilo que é agora – e nos próximos anos. Ainda que não esteja preocupado com a evolução desta tecnologia, mostra-se atento a um potencial problema: as crianças vão saber distinguir máquinas e humanos mas poderão aprender maneirismos e comportamentos com os robôs, replicando-os depois junto dos familiares e amigos.

Dylan Collins vai mais longe e afirma que as colunas inteligentes, como o Google Home ou Amazon Echo, podem transformar as crianças em pequenas pestes. Constatações como estas levam-no a sonhar com um mundo em que as empresas não têm apenas o Chief Executive Officer ou Chief Financial Officer mas também um Chief Children Officer, ou seja, um director responsável por adequar a operação da empresa – sejam bens ou serviços – ao público infantil. É preciso que haja alguém que pense em como é que as tecnologias que estão a ser criadas poderão afectar as crianças.

E é aqui que Chris Williams sente a necessidade de interromper: «Não o podem fazer porque estariam a admitir que as crianças usam tecnologias ou equipamentos que não deviam.» Dylan Collins, porém, não desiste da ideia e afirma mesmo que, idealmente, o Chief Children Officer deveria ter a capacidade de impor que todos os engenheiros que pensam plataformas potencialmente utilizadas por crianças sejam pais. «Ter uma ideia da realidade não é o mesmo que passar por ela. Ninguém se lembraria que uma criança poderia usar a Alexa (assistente digital da Amazon) para fazer os trabalhos de casa sem se esforçar. Apenas um pai poderia pensar nessa hipóteses», sublinha, acrescentando que, todos os dias, 175 mil crianças ficam online pela primeira vez.

Darren Shou aproveita a deixa para dar outro exemplo negativo: e se a realidade aumentada evoluir de tal forma que um pai e uma criança passeiam lado a lado na rua mas vislumbram ambientes diferentes, estando próximos mas, na verdade, longe um do outro? Uma possível solução será fomentar a conversa e a partilha para que as tecnologias não formem barreiras mas sim pontes.

«Proibir os miúdos de usar não é solução», aponta no mesmo sentido Chris Williams, referindo-se à ideia de que o fruto proibido é sempre o mais apetecido. No entanto, podem ser criadas plataformas que ajudem a minimizar a exposição dos mais novos, como é o caso do YouTube Kids. Na opinião do responsável, este é um bom sistema de controlo parental mas que não é muito conhecido: «Se fossem tão bons a divulgar estas plataformas como são a desenvolvê-las…»

Texto de Filipa Almeida

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