Web Summit: Donativos impulsionam negócio do The Guardian

Os donativos dos leitores do jornal The Guardian têm sido um dos catalisadores do negócio da publicação inglesa, representando já 12% das receitas da empresa, estratégia que permitiu inverter os resultados negativos da publicação que soma quase dois séculos.

Um dos princípios do The Guardian é proporcionar a máxima qualidade do jornalismo. David Pemsel, CEO do The Guardian Media Group, considera que cobrar dinheiro pelo acesso à informação é contraditório para o exercício da democracia, o que levou a empresa a apostar nos donativos por parte dos leitores. «Há quem diga que estamos a mendigar. Mas a verdade é que, desde 2016, quando anunciámos esta estratégia, já alcançámos um milhão de pessoas que pagaram uma subscrição ou fizeram um donativo. Os utilizadores que doam esse dinheiro não só garantem acesso à informação como estão a permitir que quem não tenha possibilidade de pagar pelos conteúdos, consiga aceder aos mesmos», afirma David Pemsel.

Um dos quatro pilares do The Guardian assenta em encorajar os seus utilizadores a contribuírem com donativos. Através da optimização de data e linguagem, o jornal tem conseguido adaptar as mensagens aos utilizadores, de acordo com os assuntos que pretendem ler. E, com isso, assumir-se como uma mais valia e merecedor de investimento por parte dos leitores.

«Estávamos a perder dinheiro há três anos, mas a nossa estratégia vai permitir-nos atingir o break-even em Março do próximo ano. Temos vindo a percorrer uma jornada muito sofisticada, cada vez mais optimizada para chegar a mais pessoas. Há uma metodologia e um método de negócio que garante este sucesso», explica o CEO.

David Pemsel relata ainda que o número de donativos aumentou depois do Brexit e da eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos da América. «É sinal de que as pessoas querem que continuemos a fazer o nosso trabalho e contribuem para que consigamos manter a nossa independência», afirma.

No entanto, este sucesso trouxe consigo consequências negativas, nomeadamente o despedimento de centenas de funcionários, decisões que o CEO vê como duras mas necessárias. «Queremos proteger o The Guardian, encontrando formas de sermos sustentáveis. Isso obrigou-nos ao corte de 500 postos de trabalho nos últimos três anos. Estas decisões são difíceis mas temos de pensar no futuro do jornal», refere.

Acerca da monetização de notícias publicadas no Facebook, David Pemsel explica que a empresa com a qual tem uma relação «complicada» deve apresentar novas soluções para que o jornal consiga monetizar os seus conteúdos nesta plataforma. «A monetização é baseada na viralidade e não na qualidade. E nós primamos pela qualidade. No entanto, apostámos em formas de mais facilmente propagar o nosso conteúdo no Facebook, como a Instant News. Mas isso não se traduz em ganhos para o The Guardian, pois todo o tráfego fica no Facebook. É necessário que surjam formas de monetizar o nosso negócio no feed de notícias», refere.

Para o futuro, o CEO defende a necessidade de encontrar melhores modelos de negócio, que permitam um jornalismo de qualidade. «Vamos continuar a inovar e a encontrar novas formas de sermos sustentáveis sem nunca comprometer a qualidade do nosso trabalho».

David Pemsel aproveitou ainda para anunciar uma parceria com a Google, para levar conteúdos próprios até ao Google Assistant, de forma a que os smart speakers possam ser uma fonte de notícias para os seus utilizadores.

Texto de Rafael Paiva Reis

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