Tempo: a nova moeda

Por Sérgio Carvalho
Director de Marketing da Fidelidade

Os dias de hoje ditam que o tempo tenha cada vez mais um valor maior.

Cada vez mais, vejo-me a medir o custo das coisas numa escala de tempo, seja na vida pessoal ou na vida profissional. O tempo que vai demorar a tal conferência, o custo na agenda da semana por participar naquela formação, o tempo da equipa despendido numa reunião de alinhamento…

E surgem as aplicações para gestão de tarefas que nos prometem poupar tempo (IFTTT, Evernote, Google Keep, Todoist, Pocket, Hootsuite…), em jeito de promessa milagrosa, livros que prometem também o inalcançável e muitas formações para descobrirmos como ganhar horas e horas de tempo.

Todos os dias procuramos medir o desgaste nas nossas equipas, sobretudo pelo investimento de tempo pessoal no trabalho e pelo tempo despendido a fazer tarefas administrativas, qualificando o trabalho em tempo: “fazes isto num instante”, “só preciso de ti por uns minutos”, como quem diz que custa pouco…

E por fim, como consumidores, mas também muito no universo da Comunicação, Marketing e Publicidade, tudo o que nos rodeia começa pela simples decisão de se justifica, ou não, investir tempo a ver esta publicidade, a olhar para este conteúdo, a interagir com esta funcionalidade, a fazer o download de uma aplicação, o que nos leva a tentar fazer mil e uma coisas para “comprar” o tempo dos nossos consumidores e clientes.

Veja-se o caso recente do RGPD em que todos fomos bombardeados (e provavelmente responsáveis por estas acções) com emails, sms ou cartas. Ainda que alguns tenham usado textos criativos, outros textos jurídicos, dignos do mais renomado especialista deste regulamento (vejo existem muitos…), tornou- -se impossível qualquer resultado, porque nenhum de nós vai investir horas a navegar em dezenas e dezenas de emails e afins.

E na nossa vida pessoal? Quantas vezes o tempo mede a decisão que tomamos? Ir almoçar com os meus pais? Sair para ver o sol? Jantar com os meus amigos? Investir tempo a conhecer novas pessoas? A praticar desporto? Aquele hobby que sempre quisemos fazer? Mas… o tempo que nos vai custar aquele tempo que não temos, aquele tempo que vale mais do que dinheiro…

E depois deste tempo que investiram no meu texto, só vos posso dizer que não tenho respostas, apenas esta certeza de que agora o tempo é a nova moeda dos nossos tempos e possivelmente uma das mais valiosas para o nosso sucesso e felicidade. Gastem bem o vosso tempo!

 

Uns, com os olhos postos no passado,
Vêem o que não vêem; outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro, vêem
O que não pode ver-se.

Por que tão longe ir pôr o que está perto —
A segurança nossa? Este é o dia,
Esta é a hora, este o momento, isto
É quem somos, e é tudo.

Perene flui a interminável hora
Que nos confessa nulos. No mesmo hausto
Em que vivemos, morreremos. Colhe
O dia, porque és ele.

28-8-1933, “Odes de Ricardo Reis”, Fernando Pessoa.

 

Artigo de opinião publicado na Revista Marketeer n.º 263 de Junho de 2018.

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