Portugal na rota do automóvel do futuro

Muito se tem falado de uma hipotética abertura de uma fábrica da Tesla em território nacional, o que motivou inclusive a criação do movimento “Bring Tesla Gigafactory to Portugal” nas redes sociais. Para Luís Reis, vice-presidente da Associação Portuguesa do Veículo Eléctrico (APVE), não há dúvidas de que «Portugal, com a sua indústria automóvel altamente qualificada, pode acolher qualquer projecto de industrialização, como é o caso da Tesla».

O responsável foi um dos oradores presentes na mesa redonda que abriu a I Conferência Automonitor, dedicada ao tema “O Futuro do Automóvel”, que decorreu esta manhã na sede da EDP, em Lisboa. José Lobato Duarte (director da EDP Comercial), Miguel Santos (director de Desenvolvimento da Bosch Portugal) e Franco Caruso (director de Comunicação da Brisa) completaram uma mesa onde se abordou a importância que o País pode assumir para o futuro de uma indústria que está a atravessar profundas alterações, em áreas como a electrificação, condução autónoma e conectividade.

Enquanto País, «somos muito atractivos para ensaios. O desafio é passar dos ensaios para algo um pouco mais estruturante para a economia do País», concordou Franco Caruso. O director de Comunicação da Brisa afirmou ainda que o tema da condução autónoma nas auto-estradas portuguesas «não será uma realidade a curto-prazo». «O que está mais próximo de acontecer em Portugal é a optimização da viagem em auto-estrada ou noutras infra-estruturas rodoviárias através de serviços digitais que permitam, por exemplo, optimizar o planeamento das viagens» em veículos eléctricos ou híbridos, adiantou. Recorde-se que, há  cerca de duas semanas, três auto-estradas portuguesas receberam um novo corredor eléctrico.

Tecnologia “made in” Portugal

Outra área em que Portugal poderá dar cartas para o futuro da indústria é na tecnologia. Não é por acaso que é em Portugal, mais precisamente em Braga, que a Bosch tem instalada uma das maiores fábricas de sistemas de multimédia automóvel/infotainment e sensorização da Europa. Em estreita parceria com a Universidade do Minho, a multinacional alemã tem vindo a dar passos importantes em áreas como a cibersegurança ou o desenvolvimento de sensores (para a avaliação do estado do piso, por exemplo) que são integrados em automóveis sem condutor. «O projecto começou há três anos com 10 engenheiros que queriam provar que era possível desenvolver este tipo de software em Portugal. Conseguimos convencer a empresa a confiar em nós», afirmou Miguel Santos, director de Desenvolvimento da Bosch Portugal.

O responsável ressalvou, no entanto, que ainda há um longo caminho a percorrer, pois os automóveis autónomos só serão seguros quando tiverem uma completa integração com outros veículos e sistemas que estejam instalados nas cidades. «Os sensores actuais, por muito bons que sejam, não conseguem antever o que está a acontecer num raio de três quilómetros», explicou.

A electrificação foi outro dos temas em cima da mesa. De acordo Luís Reis, este é um tema «incontornável» à escala mundial, mas no futuro «nem todos os veículos serão 100% eléctricos». Este tipo de veículos até poderá vir a predominar nos centros urbanos – até porque já há cidades europeias a equacionar a proibição de circulação de veículos com motores de combustão em determinadas zonas -, mas «numa utilização fora do perímetro urbano» será dada a primazia a veículos híbridos, vaticinou o vice-presidente da APVE.

A pensar em todas estas questões adjacentes ao mercado automóvel está também a EDP, que vê a mudança do sector automóvel também como uma oportunidade de negócio. No Norte de Espanha, a eléctrica tem já instaladas estações de gás comprimido à disposição dos condutores particulares. «Em Espanha há um maior incentivo do que em Portugal no que toca à utilização do gás natural. Em Portugal, como o mercado evoluiu mais no sentido da electrificação, apostamos mais neste segmento», sublinhou José Lobato Duarte.

Governo quer testes a automóveis autónomos

O governo português «está a trabalhar no enquadramento legal que permita a realização de testes de condução autónoma em Portugal. Já falámos com dois ou três fabricantes [automóveis] de referência acerca dessa possibilidade», revelou José Mendes, secretário de Estado Adjunto e do Ambiente, no discurso de encerramento da conferência “O Futuro do Automóvel”.

O governante sublinhou ainda a retoma do programa nacional de mobilidade eléctrica, Mobi.e, que culminou na instalação de 20 novos postos de carregamento nas duas últimas semanas em todo o País, e garantiu que a vontade do Governo é continuar neste caminho. «Até ao final do ano iremos instalar mais 404 postos de carregamento semi-rápidos em todos os municípios do País, sem prejuízo do investimento que tem sido feito – e bem – pelas empresas privadas», concluiu.

A conferência do Automonitor contou ainda com a presença  de  Gion Baker, CEO da Vodafone Automotive, e Gareth Dunsmore, director de Veículos Eléctricos da Nissan Europa, que vincou que os planos da marca nipónica passam por um futuro sem emissões nem mortes na estrada.

Texto de Daniel Almeida

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