Pequeno-almoço debate

No âmbito das comemorações oficiais do Dia Mundial do Turismo, o presidente do Turismo de Portugal, João Cotrim de Figueiredo, apresentou os pilares do sector para 2015. O objectivo final é afirmar o turismo enquanto actividade económica líder. Esta foi a base da discussão de ideias no decurso do último pequeno-almoço debate da revista Marketeer.

Os dados do primeiro semestre de 2014 reforçam o crescimento que o turismo teve em 2013, revelando um aumento de 10,8% nas dormidas (25,2 milhões) e um crescimento de 10,3% no valor das receitas (para 5,4 mil milhões de euros). Para João Cotrim de Figueiredo, presidente do Turismo de Portugal, «estes bons resultados do turismo não são sinónimos de que nada há a fazer», refutando que, «pelo contrário, é nos momentos altos do ciclo que se devem criar as condições para que o crescimento possa ser duradouro e sustentado». Para o responsável é «exactamente isso que a actuação do Turismo de Portugal pretende conseguir» através do plano estratégico do sector para 2015.

Assente num conjunto de pilares, a estratégia agora divulgada pelo Turismo de Portugal serviu de base a mais um pequeno-almoço promovido pela Marketeer com um grupo de profissionais de topo, responsáveis pela estratégia, marketing e comunicação de empresas que actuam em diferentes áreas relacionadas com o turismo. Neste pequeno-almoço, que teve lugar no Hotel Dom Pedro Palace, em Lisboa, estiveram presentes Pedro Ribeiro (director de Marketing e Comercial do Grupo Dom Pedro Hotels), Nuno Ferreira Pires (administrador do Grupo Pestana), Rogério Cardoso (director de Marketing da ES Viagens), Frederico Costa (presidente da Visabeira Turismo), Gonçalo Rebelo de Almeida (director de Marketing e Vendas do Grupo Vila Galé) e Isabel Barata (administradora do Grupo SATA).

Com a finalidade de se alcançar um debate mais aprofundado por parte de todos, foi decidido que nenhuma das intervenções seria atribuída directamente no texto.

Pilares estratégicos do desenvolvimento do turismo

Afirmar e defender o turismo enquanto actividade económica líder e preponderante é uma questão cada vez mais premente e urgente de trazer a debate, não só pelo peso que o sector tem no desenvolvimento económico do País, mas também pelas diversas e importantes implicações que se desdobram nos sectores satélite e na própria sociedade. Como entidade responsável pela promoção do sector, o Turismo de Portugal fará uma aposta decisiva no conhecimento, na qualidade da informação estatística e nos serviços a prestar aos stakeholders no sector, afirmando-se como parceiro das empresas nas várias fases do ciclo de vida dos seus negócios. Para tal, foi recentemente apresentado o plano estratégico do turismo para 2015 assente em quatro pilares essenciais: afirmação do turismo enquanto actividade líder e estimulação da procura turística para Portugal, afirmando o propósito do destino de “receber bem todas as pessoas, de onde quer que venham”; reforço dos meios online, bem como acções que facilitem a venda, como publicidade, apoio a rotas aéreas ou parcerias com operadores turísticos; elaboração de um plano de acção para os agentes do sector, para vigorar até 2020, alinhado com o quadro comunitário de apoio, reforçando o financiamento disponível para as empresas; qualificação dos recursos humanos do sector, que deve privilegiar o desenvolvimento de parcerias com instituições de ensino e formação.

Mas, serão estes pilares suficientes para alavancar o sector do turismo para o prazo de cinco anos (2015/2020)? «A grande diferença deste plano não está propriamente nos pilares ou na forma como são apresentados, mas sim no trabalho que é feito por debaixo desses pilares », foi referido, pois a importância de ter o turismo como principal actividade económica do país é relativa, «desde que todos beneficiem com isso e se todas as outras actividades se aliem para trazer negócio o resultado será sempre positivo». Importante é o envolvimento de todos os players reais do sector em termos da definição da estratégia e as decisões alavancadas a estes pilares, os quais apresentam um campo de acção relativamente amplo. «Era importante que o Turismo de Portugal desse a conhecer os planos de acção efectivos», sendo dado como exemplo o reforço na aposta online, «do qual não se sabe o valor de investimento ou resultados efectivos», há um envolvimento dos players «a posteriori e nunca a priori, como devia acontecer».

À semelhança de outros debates referiu-se a necessidade que «existe de se fazer um levantamento na área dos eventos, onde se tem assistido a algum desinvestimento por parte das entidades competentes, e de se repensar, em termos de futuro, todas as infra-estruturas da oferta turística de cada região do País», o que, podendo não ser uma competência exclusiva do Turismo de Portugal, tem nesta entidade uma âncora de extrema importância. Foram referenciados dois temas que, não estando, deviam estar mencionados no plano, mais concretamente «a postura relativamente ao posicionamento de Lisboa como porto de cruzeiros e a aposta neste segmento, que continua a crescer, e a ausência de referência aos novos mercados».

Relativamente aos pontos positivos do plano apresentado foi referida «a permanência da aposta no online, a grande janela de entrada de clientes, com a exportação a desempenhar um papel cada vez mais importante», sendo referida a necessidade de existir «não só um reforço na presença online como a reformulação de uma estratégia competente relativamente a esta matéria». Outra aposta positiva ao nível dos pilares apresentados «é a percepção política da importância de agregar todos os players sob a umbrela do posicionamento do sector». Uma das falhas apontadas foi a ausência de escala de Portugal como destino turístico ao nível mundial, «devia haver referência ou uma solução para esta questão, pois ganharíamos maior importância e força junto do mercado internacional». Mais uma vez foi reforçada a necessidade de envolvimento de todos os players, «todos falamos de Portugal e devíamos fazê-lo todos juntos, independentemente das áreas e dos interesses de cada um».

No que diz respeito ao reforço da presença online, todos os intervenientes concordaram em como é necessária uma clarificação dessa opção, passando a mesma desde o esclarecimento «daquilo que se entende por online (diferentes canais), até à ligação, essencial, que deve ser feita com os canais de distribuição normal». Através dos organismos oficiais deverá ser criada notoriedade do destino Portugal, «para que depois cada um dos intervenientes no sector possa fazer o seu trabalho, através dos seus canais de vendas e de distribuição », pois o que importa é «decidir o alinhamento para que juntos possamos retirar o melhor dos investimentos realizados».

Mas será que não colocamos demasiadas expectativas em cima da instituição Turismo de Portugal? «É, claramente, o organismo com responsabilidades oficiais no sector do turismo, mas não esqueçamos de que é uma instituição pública, com tudo o que é inerente a essa posição», foi referido, pois a verdade é que «o motor do turismo são as empresas e não o Turismo de Portugal». A importância do organismo surge em larga medida quando se faz referência à afirmação do sector, «sobretudo quando se fala nas taxas camarárias que estão para chegar, das taxas que subiram na ANA, no boom do alojamento local, pois tudo isto acontece porque o turismo não tem ainda um lobby forte e como tal não abre os telejornais », foi salientado. Afirmação geradora de alguma discordância, pois nenhum dos presentes defende a contestação negativa associada ao sector do turismo, o que levou ao reforço de uma conclusão recorrente, «há um trabalho urgente que precisa de ser feito de afirmação do turismo». Foi afirmado que «o turismo não tem credibilidade económica, sendo que os únicos números que surgem na comunicação social são os de que o sector é gerador de 10% do PIB e de 10% do emprego», não havendo a divulgação de mais dados sobre o impacto económico do sector, tendo sido aflorada a necessidade de um bom serviço de relações públicas no Turismo de Portugal.

Ainda relativamente à não existência de um lobby do turismo, foi dado como exemplo o caso Gedipe, Associação para a Gestão de Direitos de Autor, Produtores e Associados, através do qual será cobrada a todos, com especial incidência na hotelaria e restauração, uma tarifa pela disponibilização de televisores e a recepção de TV efectuada nos quartos e zonas comuns, no caso dos hotéis, a fim de serem pagos os direitos conexos (relativos a produtores e artistas intérpretes e executantes de videogramas). De acordo com os participantes, os «valores cobrados, livremente, pelas associações privadas que vão proliferando, pelo potencial usufruto daquele programa de TV, são exorbitantes e vão ter um forte impacto nos resultados obtidos por cada unidade ou cadeia», o que vem dificultar ainda mais a subsistência de muitos hotéis.

Outro dos aspectos focados foi o facto de que «invariavelmente, quando se fala em estratégias de turismo, 90% recai sobre marketing, comercialização, promoção e vendas», o que leva, mais uma vez, à acção desenvolvida pelo Turismo de Portugal e às expectativas que o sector aqui coloca.

Mais uma vez é «necessária a existência de um trabalho comum, uma articulação e um envolvimento entre todos», concordando os participantes em que, «para se conseguir obter bons resultados, aqueles que todos desejam, é necessário juntar esforços e repartir responsabilidades».

Fotos de Pedro Simões

Artigo publicado na edição n.º 220 de Novembro de 2014.

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