Pavlovas há muitas! Mas não como estas

Chama-se Miss Pavlova e tem vindo a mexer com o mercado tradicional da pastelaria, com o seu conceito diferenciador, ao mesmo tempo que vai ganhando contornos de love brand. Quer saber o segredo?

Se nunca provou as receitas da Miss Pavlova, não sabe o que perde. A marca portuense “importou” a sobremesa de origem australiana ou neo-zelandesa (é um daqueles debates gastronómicos aparentemente insolucionáveis), que é metade merengue, metade recheio cremoso, mas tem convencido por inteiro cada vez mais portugueses. O que começou como uma sobremesa caseira apreciada por amigos e familiares, é hoje uma marca de pastelaria que vende, em média, qualquer coisa como mil pavlovas e 11 mil macarons por mês.

Ana Maio é “a” Miss Pavlova e a história da marca confunde-se com a sua própria. Sem for[1]mação em pastelaria, e de forma completamente autodidacta, começou, há mais de 10 anos, por confeccionar as primeiras pavlovas em casa, depois de ter visto esta iguaria no programa televisivo “Masterchef Austrália”. «Achei que era uma sobremesa muito bonita, arrojada e diferente, e resolvi experimentar. A partir daí, foi a sobremesa de eleição para jantares de amigos e reuniões de família», recorda a empreendedora.

Daí até à criação do negócio, tudo aconteceu de forma orgânica. Licenciada em Design Gráfico e Publicidade, com uma pós-graduação em Gestão de Marca e experiência acumulada na área, Ana aproveitou um momento mais amargo na sua vida para tornar o hobby dos doces num negócio. «Fiquei desempregada, numa altura de crise, e senti que era o momento certo para criar a minha marca e ter o meu próprio projecto», lembra a fundadora. Esta era também uma oportunidade de direccionar a sua criatividade para uma área diferente, mas que representava uma paixão antiga: «Sentia que, na pastelaria, podia explorar a estética, a cor e as texturas, conceitos muito ligados às artes e ao design. Para mim, pastelaria é estética e sabor.»

Na fase inicial, a pavlova era o “pecado” original e exclusivo da marca (daí o nome), que começou a vender esta sobremesa «reinventada e com vários sabores» em mercados urbanos no Porto, para «testar o produto e ver o feedback dos clientes». A verdade é que o conceito foi crescendo, ganhando clientes e seguidores, e o que se seguiu foram várias fornadas de sucesso. Dez anos depois da fundação, a Miss Pavlova conta hoje com duas lojas próprias no Norte do País – uma na zona da Ribeira, no Porto (Rua do Infante D. Henrique, 43), e outra no NorteShopping, em Matosinhos

As pavlovas continuam, como não poderia deixar de ser, a fazer as delícias dos clientes, em variedades como Tiramisú, Ovos Moles, Oreo, Natas do Céu, Lima Limão ou Floresta Negra (a best-seller, com brownie de frutos silvestres e base de merengue de chocolate), entre outras. Contudo, a oferta da marca foi alargando e estende-se hoje a macarons de diversas cores e sabores, bolachas agridoces, curds, brownies, tarteletes, choux, rolos de canela e Nutella, bolas de berlim e cookies.

O segredo? «A principal inspiração é o sabor e a estética. Acredito que o produto só é perfeito quando cumpre estes dois pré-requisitos. E também a matéria-prima, já que gostamos de evidenciar sempre o sabor, a cor e as texturas. Trabalhamos com matérias-primas de elevada qualidade, desde o chocolate belga à manteiga, ovos e farinha de amêndoa, e rejeitamos qualquer tipo de sucedâneos, misturas já prontas ou margarinas», revela Ana Maio. Além disso, «tentamos, sempre que possível, recorrer a fornecedores locais. Os ovos são um exemplo, pois trabalhamos com o mesmo fornecedor desde o início», explana.

Uma maison de doces e cultura

Desde que a Miss Pavlova foi fundada, em 2013, a marca foi tendo um crescimento gradual e sustentado, ainda que um pouco mais lento no arranque. «Não ter formação na área foi um dos maiores desafios, porque tive de ser autodidacta, estudar muito e aprender sozinha. A nível financeiro também foi difícil, porque infelizmente em Portugal não há muito apoio financeiro para iniciar um projecto», recorda Ana Maio, que assume a influência dos chefs internacionais Cyril Lignac e Clara Jung e da portuguesa Juliana Penteado.

Depois de dois anos de presença em mercados urbanos na Invicta, a marca haveria de integrar um primeiro espaço fixo numa concept store na Baixa do Porto. Um espaço «partilhado, sem visibilidade e exposição para a rua», mas que, ainda assim, «se revelou importante, pois sentimos que o cliente ia mesmo à nossa procura», recorda a fundadora da Miss Pavlova. Em 2017, alargou a oferta ao lançar o primeiro brunch, um «conceito que naquela altura ainda não estava muito explorado em Portugal». No ano seguinte, inaugurou um segundo espaço físico, no centro comercial NorteShopping, em Matosinhos, num passo que representou um novo «momento de viragem», pois permitiu aumentar a visibilidade e exposição da marca.

Em 2020, mudou de morada no centro do Porto, desta feita para uma loja na Rua do Almada e, um ano depois, em plena pandemia de Covid-19, lançou a loja online, que lhe permitiu começar a enviar encomendas para todo o País, e criou as primeiras soluções para clientes empresariais. «Senti um boom da marca durante a pandemia, pois continuámos a comunicar através de vídeos de receitas que chegaram a milhares de pessoas», lembra Ana Maio.

Em Dezembro passado, a marca teve de mudar de localização na cidade do Porto, devido às obras no metro, e inaugurou uma nova loja no coração da Ribeira. Denominada Miss Pavlova Maison, esta loja de dois pisos, localizada num edifício histórico, proporciona uma experiência completa de marca: além de degustar as clássicas sobremesas e os mais diversos produtos de pastelaria fina, os clientes poderão visitar a biblioteca temática e as exposições temporárias, com curadoria de Ana Maio. Em breve, poderão também provar cocktails no Pink Bar, sentar-se à mesa para um brunch e participar em workshops e showcookings de pastelaria

A inauguração da Miss Pavlova Maison, a tempo das celebrações do 10.º aniversário, representa assim um passo em frente na consolidação da marca no mercado nacional, onde a sua base de clientes se tem vindo a diversificar. «O cliente da Miss Pavlova é um cliente de destino, que vai atrás da marca, seja ele local ou turista. Temos muitos clientes de outras zonas do País, inclusive de Lisboa. Os turistas também gostam da marca e adoram os seus produtos», frisa a fundadora. «Sinto que a Miss Pavlova já é uma love brand», reitera.

Ambição para continuar a crescer

Porém, a ambição da marca não fica por aqui. Além de consolidar a nova loja na Ribeira, a Miss Pavlova tem já prevista a abertura de outro espaço próprio no Norte do País ainda no decorrer deste ano. Depois, o caminho passará por expandir a outras cidades em território nacional, seja através de lojas próprias e/ou de um modelo de franchising, uma vez que têm recebido cada vez mais «pedidos e solicitações de todo o País» nesse sentido. O grande sonho de Ana Maio é, no entanto, o de «conseguir internacionalizar a marca».

Em termos de distribuição, o canal online, que já representa cerca de 20% das vendas, deverá continuar a crescer. Em fase de estudo está ainda a entrada na Grande Distribuição premium e nalgumas mercearias gourmet por todo o País, o que, a concretizar-se, permitirá alargar de forma significativa os pontos de venda.

Este ano, a marca deverá continuar a expandir os pontos de contacto com os seus clientes, através da adaptação do conceito “I believe in pink” – lançado durante a pandemia e que resultou em meetings presenciais sobre empreendedorismo no feminino – a um novo podcast. Também a área B2B e de eventos corporativos, que arrancou em 2021, «começa a ter expressão, embora ainda não seja constante», salienta Ana Maio. «Vamos apostar com força nesta área de negócio, através do desenvolvimento de produtos que sejam diferenciados, direccionados para o sector e com possibilidade de personalização», explana.

Texto de Daniel Almeida

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