O desafio da literacia e de abordagens humanizadas quando comunicamos Saúde

Por Sofia Aguiar, coordenadora de Saúde, Consumo e Corporativo da Atrevia

A propósito do Dia Mundial da Saúde (7 de abril), importa refletir sobre a importância da comunicação em Saúde e o seu papel na construção de uma sociedade mais informada, consciente e saudável. Em Portugal, um dos maiores obstáculos a essa evolução tem sido a reduzida taxa de literacia em Saúde.

Um estudo recente da Associação Top Health revela lacunas significativas neste campo, com um terço da população a avaliar a comunicação atual como difícil ou até incompreensível. Esta falta de clareza é um desafio comunicacional e pode comprometer o bem-estar dos cidadãos e o acesso a cuidados adequados, um cenário que evidencia a urgência de adotar estratégias integradas e adaptadas às necessidades dos diferentes públicos, com o intuito de promover a equidade no acesso à Saúde.

Um dado relevante do mesmo estudo destaca que cerca de 70% dos portugueses recorrem à internet para procurar informações sobre Saúde. As plataformas digitais tornaram-se um ponto central de acesso à informação, mas isso não significa que todas as pessoas estejam igualmente preparadas para lidar com a avalanche de dados disponíveis online. Para um público mais envelhecido, por exemplo, formatos tradicionais, como folhetos informativos ou até sessões presenciais, podem ser mais eficazes.

Esta conclusão sublinha um ponto crucial quando comunicamos Saúde: a personalização das mensagens. Adaptar o conteúdo e escolher os canais de comunicação ajustados a cada grupo é fundamental. Compreender as necessidades, o nível de conhecimento e as perceções de cada target permite criar estratégias mais eficazes e inclusivas. Como profissionais de comunicação, é nossa responsabilidade construir redes de informação que sejam claras, acessíveis e capazes de apoiar os cidadãos nas suas decisões de Saúde.

A literacia em Saúde vai muito além da simples compreensão dos termos médicos. Implica dotar a população de ferramentas que lhes permitam ter controlo sobre o seu bem-estar, possibilitando escolhas informadas. Ao longo de duas décadas de colaboração com diferentes players do setor – desde associações de doentes, sociedades médicas e empresas do setor farmacêutico – pude observar a importância de simplificar a linguagem, utilizar recursos visuais e adaptar as mensagens a cada contexto específico. O acesso a informações objetivas e diretas capacita os doentes e cuidadores a dialogar de forma mais eficaz com os profissionais de saúde, estabelecendo uma relação mais colaborativa. Esse tipo de interação, para além de facilitar o diagnóstico e a adesão ao tratamento, resulta em melhores resultados clínicos e, mais importante ainda, numa experiência global mais positiva para todas as partes envolvidas.

Por outro lado, campanhas de comunicação em Saúde que envolvem doentes e cuidadores têm-se mostrado uma poderosa estratégia para humanizar a mensagem e facilitar o engagement e disseminação das informações. Estas iniciativas são importantes na redução do estigma de certas condições de saúde, como as doenças mentais, as doenças crónicas ou questões relacionadas com o envelhecimento. Colocar o doente no centro da comunicação possibilita a criação de projetos mais inclusivos e empáticos que quebram barreiras e cooperam na construção de um sistema de Saúde mais eficiente e preparado para satisfazer as expetativas e necessidades dos portugueses.

Em última instância, a comunicação em Saúde deve ser encarada como um processo fundamental para fortalecer a participação ativa dos cidadãos na sua própria Saúde. É um caminho para uma sociedade mais consciente, mais responsável e, acima de tudo, mais saudável.

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