No Oitto, Carlos Afonso pode levar-nos ao infinito

Carlos Afonso tem alma de criador e inconformista. Por isso, quando Renato Santos e Denize Gouvea lhe lançaram o desafio de uma parceria, não pensou muito. O resultado serve-se no Largo do Picadeiro, em Lisboa.

Quando Carlos Afonso estava à frente de O Frade, em Belém, apresentava a sua cozinha como «portuguesa, com sabores originais, equilibrados e acidez». E dizia que o que queria era fazer «comida de tacho, com responsabilidade». Produtos nossos que elogiavam a nossa gastronomia, em particular a alentejana. Fui lá e repeti, aconselhei e elogiei. Aquele era (e é) espaço onde o conforto se serve à mesa.

Mas Carlos Afonso também tem alma de viajante e de inconformista. Gosta de criar e avançar. Por isso, quando Renato Santos e Denize Gouvea lhe lançaram o repto de fazer uma parceria, não precisou de pensar muito. Ainda houve a tentação de povoar a cidade com vários Frades, mas o conceito final acabaria por se instalar em pleno Chiado – que arrojo, chef! – precisamente no número 8B do Largo do Picadeiro e é em tudo diferente do seu espaço anterior. Quer dizer, em tudo menos em dois pormenores que só fazem toda a diferença: primeiro, faz questão de garantir que os produtos que chegam à sua cozinha são portugueses (com a única excepção das trufas) e, segundo, que o que ali se concebe seja comida que conforte! Tanto um como outro, diria, estão cumpridos, Carlos, neste Oitto cujo nome não é mais do que a combinação do número da porta com o infinito. Ou não fosse objectivo do trio de sócios que este seja muito mais que um espaço onde se come.

A intenção da sociedade nasceu num almoço n’O Frade, claro, onde Denize e Renato se renderam aos sabores e conceito. Em poucos dias tinham o sim do chef e em pouco tempo também se puseram à procura de locais. Renato já teve dois espaços em Portugal, na Trofa e em Famalicão. Denize tem o Parador desde há anos, no Rio de Janeiro. Em Lisboa, souberam que a oferta a apresentar só poderia ser desenhada por Carlos Afonso. Mas também souberam que queriam dar honras principais à cozinha portuguesa. E é o que por ali acontece, de facto.

O chef, de resto, descreve assim o Oitto: «Um restaurante onde podemos pedir um croquete, comer um pato de escabeche ou um arroz de forno a partilhar e terminar com um bife à portuguesa ou uns ovos mexidos com espargos, beber um bom vinho e, no final, uma mousse com cheirinho, num ambiente que se quer sofisticado, mas também leve, jovem e casual. Um restaurante de produtos, receitas e cozinha portuguesa.» Nós fomos lá e, tirando o ceviche, dizemos que sim.

Há croquetes e rissóis de berbigão, ostras de Aveiro e tártaro de novilho – diz quem comeu que é de repetir. O que repetimos foi mesmo a delícia de corvina que nos chegou com arroz de coentros, bivalves e molho de manteiga branca e ainda aplaudimos o bife de atum servido com esmagada de batata, azeitona e alcaparra. Chegaria depois uma bochecha de porco estufada com tamarindo, puré de batata e cebolada mas, a essa, não fui, apesar de ouvir que se desfazia…

No final, se é dos que defende que a sobremesa tem que ser de chocolate, então não resista à mousse de chocolate com avelãs e caramelo salgado. N’O Frade já tinha sido pecado que me tinha incentivado a voltar. Ainda bem que neste Oitto o vício se mantém!

Sofisticado, o Oitto tem uma sala principal com capacidade para 54 pessoas, um bar de barra no piso superior com 12 lugares, uma esplanada para 20 pessoas, e, ainda no piso de cima, a Mesa do Chef, que comporta de oito a 12 pessoas. Na sala principal, promove-se um estilo de cozinha de sabores portugueses e o conceito de partilha de pratos e petiscos. No Gastrobar do piso superior, é possível uma experiência gastronómica ao balcão, com bebidas e cocktails. A Mesa do Chef, essa está pensada para momentos especiais, com menus “taylor made” para quem os quiser, e na Esplanada propõe-se pratos para degustar, com oferta de petiscos frios, saladas, ceviches, tártaros, selecções de carnes curadas e queijos.

Tudo, com um serviço sem crítica. A começar por quem recebe, por quem prepara os cocktails ou por Rodrigo Teixeira Duarte, o escanção que, para além de gostar de escolher e maridar o vinho com a comida, entende que o que faz a diferença são sempre as pessoas e só com esse olhar é que lhe faz sentido servir!

O preço médio do menu é de 50 euros (sem bebidas). Vá lá e depois diga-me coisas!

Texto de M.ª João Vieira Pinto

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