Nitin Paranjpe: «Negócios podem ser uma força do bem»

Como se gere as operações de uma das maiores empresas de FMCG do mundo, que está presente em nada menos que 190 países? Com fé, alinhamento de ambições e um sólido plano de sustentabilidade – financeira, ambiental e social. Pelo menos, é esta a convicção de Nitin Paranjpe, chief operating officer (COO) da Unilever. O gestor esteve esta manhã na Nova SBE, em Carcavelos, para ministrar uma aula aberta aos gestores do futuro. Mas em vez de falar de lucros e cashflows, centrou o seu discurso no propósito e no papel que a Unilever quer ter na sociedade.

«Nos últimos cinco anos houve uma grande erosão da confiança, nos campos da política, dos negócios, dos media e até mesmo das redes sociais. As pessoas esperam que sejam as empresas a reconstruir a confiança, em vez de estarem à espera dos Governos. Acreditam que as empresas podem apresentar lucros desde que tenham uma operação sustentável. E essa é uma grande tarefa que temos vindo a assumir», começou por afirmar Nitin Paranjpe. «Na Unilever acreditamos que os negócios podem ser uma força do bem e contribuir para o futuro da sociedade», acrescentou o gestor, que assumiu o cargo de COO da Unilever no início de Maio.

E como o tem feito? Através do plano de sustentabilidade (Sustainable Living Plan) que tem vindo a desenvolver nos últimos nove anos, com o objectivo de reduzir a pegada ecológica e aumentar o impacto social da multinacional. «A sustentabilidade não tem de ser encarada como um custo, porque se reduzimos a quantidade de água e energia que utilizamos, isso é bom para o negócio. 65% da energia que utilizamos já é sustentável e o objectivo é chegar aos 100% a curto prazo», anunciou o gestor. Com efeito, lembra, ao longo destes nove anos, a Unilever tem vindo a crescer quer no top-line (receitas) quer no bottom-line (lucros). «É difícil encontrar outras empresas que tenham esta performance num período temporal tão longo. Estamos a mostrar que é possível crescer com práticas sustentáveis», reiterou.

De acordo com Nitin Paranjpe, só as empresas que tiverem um propósito claro na sociedade vão conseguir sobreviver às mudanças vertiginosas que estão a acontecer e que se vão adensar nas próximas décadas. O responsável lembrou que, nos últimos anos, a esperança média de vida das empresas do ranking S&P 500 – que são «as maiores do mundo» – baixou de 60 para apenas 16 anos. «Temos de abraçar as mudanças, e não ter medo delas, percebendo que mudança significa oportunidade. Esta deve ser a prioridade de todas as empresas. Temos de arranjar uma maneira de lidar com a pressão asfixiante dos resultados trimestrais e, simultaneamente, investir na construção de um futuro sustentável. As grandes empresas são aquelas que abraçam os desafios mais difíceis», salientou.

E isto implica inovar não apenas no portefólio de produtos e serviços, mas também noutras vertentes do negócio, como a publicidade ou o recrutamento. No caso da Unilever, por exemplo, a empresa decidiu, há dois anos, reduzir o número de agências com as quais trabalha e canalizar esse dinheiro para a aposta em canais e formatos específicos de comunicação (como working media e ponto de venda). «Também inovámos na forma de recrutar. Hoje utilizamos a inteligência artificial e jogos online nos processos de recrutamento, o que nos permite avaliar parâmetros como a criatividade e a resolução de problemas de uma forma que antigamente não conseguíamos», afirmou.

Conselhos para os futuros gestores

Perante uma audiência composta maioritariamente por estudantes de Gestão, Nitin Paranjpe recordou que este é o período «mais entusiasmante» para qualquer aluno desta área. Porquê? «Porque nunca houve tanta procura por novos gestores que tenham a capacidade e a coragem de ter um impacto real no mundo. Quando eu tirei o curso, há 30 anos, ensinaram-me que o importante era maximizar os proveitos dos accionistas. Nada poderia estar mais errado! Essa não deve ser a prioridade, mas sim o resultado da actividade das empresas. Se fizemos o bem pela sociedade, vamos acabar por lucrar com isso.»

O COO da Unilever apontou ainda aquelas que considera ser as qualidades mais importantes do gestor moderno: «Primeiro, deve ter fé e convicção, porque os obstáculos são muitos e, se não estiver seguro de si, não os conseguirá ultrapassar. A segunda característica é ter uma visao colaborativa e espírito de equipa. A terceira é ter a capacidade de abraçar a mudança. Se acham que as mudancas de hoje são demasiadas, lembrem-se que daqui para a frente só vão acelerar. 85% dos empregos que existirão em 2030 ainda nem sequer existem».

Sobre este útimo ponto, lembrou que o conhecimento que hoje é transmitido nas faculdades, por muito lato que seja, cada vez será mais «insuficiente», obrigando a uma actualização constante ao longo da vida. «É fundamental termos a capacidade de aprender e desaprender. Não podemos estar convencidos de que sabemos tudo», concluiu.

Texto de Daniel Almeida

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