Nas margens da barragem de Montargil, conforto casa com tradição

É a pouco mais de hora e meia de carro de Lisboa, cumprindo todos os limites, que se esconde um dos refúgios que vale a pena conhecer no Alto Alentejo. Na margem da albufeira da barragem de Montargil, fomos descobrir o Montargil Monte Novo.

Se procura evitar ajuntamentos e preservar a sua privacidade, este pode ser o espaço certo. Com apenas 7 moradias (com tipologias variadas) e 4 quartos duplos na Casa Redonda (que partilham uma infinity pool), este monte permite-lhe, se assim o desejar, não se cruzar com os restantes hóspedes, ler em sossego sendo apenas e agradavelmente interrompido pelo chilrear de pássaros.

Logo à chegada fomos recebidos pela directora-geral do espaço, Marlene Castro, que nos mostrou os cantos ao monte, fazendo-nos sentir em território de uma prima de quem temos saudades. E é dessa forma que querem que os visitantes se sintam: em casa e à vontade para pedir o que lhes fizer falta.

Todos os detalhes estão pensados para que isso aconteça. Numa conversa de poucos minutos, o meu filho deixou de ser o hóspede e passou a ser tratado pelo nome, o mesmo acontecendo com o Chico, o nosso cão, que travou amizade com a anfitriã e com os seus gatos.

Assim que nos instalámos, a piscina privativa da Vila Rosmaninho tornou-se o centro de todos os momentos. Mas acredito que em dias mais frios seja a lareira a ocupar esse lugar. Com vista para a barragem e a poucos minutos a pé, a tranquilidade transmitida por este espaço volta a invadir-me, agora que escrevo estas linhas.

O pequeno-almoço é entregue à hora combinada em mochilas térmicas em tudo semelhantes às dos serviços de entregas de refeições nas cidades. Mas a semelhança acaba aí. O que vem lá dentro é o que previamente foi combinado de modo a haver desperdício zero.

Entregar-se aos prazeres da mesa

Na casa não falta nada para podermos preparar refeições, o que fizemos, mas se conseguir, não deixe de ter a experiência de jantar na Casa Redonda. Aí, quando fizer a marcação, vão apenas perguntar-lhe se tem alergias ou intolerâncias, ficando tudo o resto nas mãos da equipa comandada pelo chef Carlos Marques. Nada tema, sabendo de antemão que se entregará a gastronomia alentejana e que a experiência muda todos os dias em função do que está no ponto no pomar e na horta do Monte Novo.

Aqui a prioridade é dar resposta aos hóspedes dos quartos, mas em havendo vagas os hóspedes das vilas também podem ter a experiência no restaurante. Além disso, fazem entregas deste menu de degustação surpresa do chefe também nas vilas.

No restaurante pode contar com a visita do chef em cada um dos momentos da refeição, explicando a confecção e as particularidades de cada prato. Um luxo poucas vezes visto em restaurantes e só possível, segundo nos explicou o chef Carlos Marques, com poucas mesas por noite de maneira a dar atenção a todos os convidados e ouvir as suas opiniões sobre cada prato servido.

Na noite em que nos sentámos a desfrutar do pôr do sol na barragem, começámos com uma limonada com poejo (limões de Marco de Canavezes) que nos foi acompanhando pela noite fora. Como entrada, chegar-nos ia à mesa «um abraço do Alentejo», nas palavras do chef, com as 5 texturas de tomate cherry com poejo. Confessando-nos que é fã de pratos vegetarianos e de levar os legumes ao seu expoente, iria trazer-nos e deleitar-nos com o Brás de espargos. Super cremoso com a batata no ponto sem estar desfeita e os espargos com sabor de verdade, como deveria ser sempre. Com pompa e circunstância, depois de mais dois dedos de conversa com Marlene Castro, voltava o chef à mesa com uma dourada ao sal com lima, puré de batata francesa, aipo, courgette e cenoura. Já estou a salivar, de novo! E como somos portugueses e era o Alentejo que nos recebia, as sobremesas não quiseram ficar atrás dos seus antecessores. Nem a pré-sobremesa – uma sericaia com lima e suspiro -, nem a sobremesa propriamente dita, uma tarte de figo. E eu, que até nem sou a maior apreciadora de figos, não depeniquei apenas. Estava tão bom que foi até à ultima migalhinha de massa folhada. Afinal, até estava a comer fruta e toda a gente sabe que fruta é saudável!

Receber os patudos

Há pequenas atenções que fazem toda a diferença quando chegamos a um local ao qual vamos chamar casa durante alguns dias. Para os pais de crianças pequenas, a existência de uma cadeirinha da papa faz a diferença se bem me lembro de quando o meu filho – agora um adolescente mais alto do que eu – tinha essas necessidades (e estava à nossa espera na sala). Hoje, num espaço que se apresenta como dog friendly, chamarem-no pelo nome e terem taças para água e ração são detalhes que fazem mesmo a diferença. Mas o Montargil Monte Novo vai mais longe e recebe os amigos de quatro patas com uma carta que informalmente explica as regras de boa convivência. E em jeito de graça deixa um mimo em forma de snacks e saquinhos para dejectos. Para bons entendedores meia palavra basta, certo?

Texto de Maria João Lima

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