Não calem a música!

M.ª João Vieira Pinto
Directora de Redacção Marketeer

«Podiam era desligar a música.» Sim, a frase foi só esta. Não estranharia se estivéssemos em pleno areal de uma praia pouco povoada, a desligarmo-nos do mundo. Ou num qualquer restaurante a tentar alimentar uma conversa. Mas não. A música chegava de um palco. De um concerto ao vivo. Num enorme festival.

Confesso que por segundos pensei em beliscar-me. Podia ter ouvido mal… A música estava alta. Devia querer dizer outra coisa. Mas a senhora fez questão de repetir: «Estava-se bem melhor se não houvesse música!»

Comecei por ficar em choque; questionei-me internamente, a mim mesma, e tentei encontrar uma qualquer explicação possível; quedei-me pela constatação de uma realidade cada vez mais transversal. Há uma imensa minoria – sim, ainda é minoria – que vai a eventos, para estar. Para fotografar e tagar. Passar e conversar. Sorrir e mostrar.

Sou do Porto e do tempo em que partilhávamos boleia e carros para vir a Lisboa assistir a concertos. Como o dos U2 em Alvalade, em 2005. Ou, anos antes, de Lloyd Cole no Dramático de Cascais! A música era a cola da vida. E música ao vivo era coisa rara. Não, não havia concertos todas as semanas e, muito menos, várias vezes por semana. As tournées quase não passavam por Portugal. E assistir às nossas bandas em cima do palco, a uns metros, era luxo com que sonhávamos e que fazíamos questão de pagar.

Claro que há a diferença entre concertos e festivais. Estes, com as dezenas de bandas – e de grandes bandas – que oferecem, ainda só se erguem com o apoio de terceiros. De empresas e marcas que querem estar no recinto, a ajudar a dar música e a promover a música.

Foi, aliás, por isso que a Marketeer percorreu bastidores e acompanhou montagens de algumas dessas mesmas marcas que têm vindo a activar neste território e que, durante três dias, ajudaram a que um festival como o NOS Alive pudesse voltar a acontecer. Assim como ajudam a erguer um Super Bock Super Rock ou um MEO Sudoeste.

Mas a estes, aos festivais, vão muito mais que simples melómanos. Ou amantes de letras e refrões. Depois, claro, existe uma grande multidão que continua a querer ouvir diferentes acordes e encores. Porque a música ainda alimenta e lava a alma.

Se há plateia para todos? Terá que haver. Mas, pelo meio, p.f. nunca calem a música!

Editorial publicado na edição n.º 264 da Revista Marketeer de Julho de 2018.

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