Foi no Sagres Campo Pequeno que a Cerveja Sagres reuniu, esta manhã, um grupo de convidados para dar voz ao seu manifesto “Somos o que nos vai na Alma”.
Nesse encontro personalidades como Ana Markl, Miguel Esteves Cardoso, Luísa Sobral e Rui Maria Pêgo reflectiram sobre o que é ser português, de forma descontraída, numa conversa que teve como objectivo encontrar o que nos une enquanto povo.
Lembrando que a Sagres foi lançada em 1940, na Exposição do Mundo Português e que todos os seus detalhes foram cuidadosamente pensados para traduzir a cultura e a história portuguesas num produto – desde o nome da vila de onde os portugueses partiram (à descoberta de novos mundos) ao logo com o escudo -, Catarina Ferraz, responsável de Marketing da Cerveja Sagres, deu o pontapé de saída para a conversa sobre a alma portuguesa.
«Em todas as campanhas, em todos os patrocínios, as activações, todos os eventos, tudo o que fazemos há décadas é sempre com base nesta portugalidade. Porque somos uma cerveja de todos, para todos, foi assim que Sagres nasceu. Uma cerveja orgulhosamente popular», começou por dizer. A responsável explicou que todos os anos, sempre que pensavam em campanhas, havia uma pergunta que aparecia constantemente: o que é ser português? «Na busca de respostas, fomos percebendo que ser português não é uma bandeira, não é um passaporte, não é uma língua, não é uma origem, não é saber cantar um hino, não é puxar pela selecção. É muito, muito mais do que isso.» Hoje a responsável da marca não tem dúvidas de que ser português são emoções e são sentimentos. «E são essas emoções, esses sentimentos que muitas vezes são contraditórios. Mas na verdade nós aceitamos isso, nós percebemos que a riqueza da nossa alma portuguesa está precisamente no facto de ser uma alma que não é possível explicar. Temos que sentir», resumiu Catarina Ferraz.
A profissional não se coíbe de afirmar que a alma portuguesa é a essência da Sagres. E garante que é nessa riqueza que a marca vai continuar a trabalhar. «Esta alma portuguesa mostra que somos um povo cheio de tradições e de contradições, cheio de medos e de certezas, cheio de saudades e de vontades. Somos, sem dúvida, um povo que se sente.»
E o que a Sagres quer continuar a ser é uma marca que fala para todos, que espera ser um ponto de encontro, um lugar onde toda a gente possa conversar, onde se pode discutir, onde se pode crer, chorar e ser «quem nós quisermos».
Perante a plateia Luísa Sobral, que viveu nos EUA a partir dos seus 16 anos, garante: «Quando vamos para fora tornamo-nos mais portugueses. Lembro-me que bebia Sumol e comia carcaças, apesar de não gostar de refrigerantes.»
Também Rui Maria Pêgo admite que quando estava fora – esteve a estudar no Reino Unido – estava sempre a falar e a pensar em Portugal. «Os outros [colegas] gozavam comigo», conta salientando que «há uma maneira de sentir que não escolhemos».
Luísa Sobral acredita que, na verdade, só se percebe o que é isso se ser português quando se está fora da realidade portuguesa e se é confrontado com realidades diferentes. E todos os portugueses que vivem fora têm o sonho de ganhar dinheiro suficiente para poder voltar. Miguel Esteves Cardoso lamenta: «A única coisa que falta aos portugueses é dinheiro.»
Para o escritor, «a alma dos portugueses é a alma de todos os portugueses juntos e misturados. Estamos expostos à doçura dos portugueses desde que somos pequeninos, desde sempre. E quando passamos a fronteira e vamos a outro país não há essa doçura, essa simpatia». Daí que a qualquer lado que o português vá comente sempre “é bonito / bom / agradável, mas não é como as nossas”.
Ciente de que o seu irmão Salvador Sobral tem um peso para carregar a vida toda por ter representado Portugal no festival da Eurovisão, Luísa Sobral, a autora da canção, garante que quando a escrevia não pensou que estaria a representar o País e que esse teria sido um peso muito grande. «Mas senti quando chegámos ao aeroporto, depois de vencer a final, e havia um mar de gente que, em geral, só se vê em situações que envolvam futebol.»
Uma escolha
Se no passado escolher entre Sagres e Super Bock era praticamente a única decisão que os consumidores tinham de fazer porque não havia alternativa, hoje, lembra Miguel Esteves Cardoso, «os supermercados estão recheados de diferentes marcas de cerveja». E continua: «Provamos tudo, mas depois escolhemos as nossas duas. No passado não conhecíamos as outras, mas agora é uma escolha.» E não há dúvidas de que aqui há extremismos e pessoas que se recusam terminanetemente a beber aquela que não é a sua preferida, reagindo mal quando em algum estabelecimento lhe dizem “Não temos Sagres, pode ser Super Bock?”, ou vice-versa.
Rui Maria Pêgo explica essa atitude pela paixão dos portugueses pelo hábito. «Somos avessos à mudança, seja de marcas, seja de estabelecimentos. Aquelas pessoas conhecem-nos e queremos manter.» E Miguel Esteves Cardoso junta a sua colherada: «Vamos a sítios porque já sabemos que tem Sagres ou Super Bock.» Aliás, o escritor lembra o quão democrática é esta bebida: «É para o pobre e para o rico. Uma imperial é uma bebida digna», sublinha. E, sublinhando que a Sagres é a sua eleita, provoca todos aqueles que o estavam a ouvir: «Todos sabemos que a cerveja imperial é a melhor. É melhor do que a mini, melhor do que a de litro e melhor do que a lata. Todos sabemos que a imperial é a melhor cerveja, apesar de ser igual a todos os outros formatos.»
Texto de Maria João Lima
*A jornalista escreve segundo o Antigo Acordo Ortográfico