Lotação esgotada no primeiro MIL

Precisamente 332 delegados e profissionais de 14 países marcaram presença na primeira edição do MIL – International Music Network. O balanço final aponta também para 218 artistas, divididos por 52 espectáculos em seis salas, além de 750 espectadores numa lotação esgotada (apenas bilhetes para concertos).

Mas o MIL não se fez apenas de concertos. Seguindo o conceito festival-convenção, o MIL apresentou 12 debates, acessíveis apenas a quem adquirisse o bilhete Pro, dirigido a profissionais da indústria da música.

O estado do mercado musical português encerrou a primeira edição do MIL, pelo menos no que a painéis de debate dizia respeito – à noite ainda tocariam nomes como Linda Martini, Duquesa e Golden Slumbers. O primeiro ponto assente nesta conversa é que a música portuguesa está a ganhar reconhecimento junto do público, nacional e estrangeiro, que há uns anos – não tantos assim – rejeitava grande parte do que se fazia por cá, simplesmente por isso, por ser feito cá.

«Agora há mais interesse», afirma David Santos, músico por detrás do projecto Noiserv e membro dos You Can’t Win, Charlie Brown. E isso ajuda em todos os aspectos do negócio, facilitando a edição e distribuição de temas, marcação de concertos e divulgação das bandas. Porém, se tudo parece estar melhor do que há 10 anos, não quer dizer que esteja bem e que os artistas portugueses tenham a vida facilitada.

John Gonçalves, dos The Gift, exemplifica as dificuldades ainda sentidas com a ideia de que os discos são, actualmente, merchandising das bandas. Um coleccionável e não algo que se compra para ouvir o músico em questão. Contudo, isto parece ser um sintoma do evoluir dos tempos, da transformação digital, e não um problema exclusivo do mercado português. John Gonçalves fala ainda da obsessão com a palavra “awareness”, uma buzz word que leva os artistas a correr atrás de notoriedade para que se mantenham relevantes e na mente do público, dada a multiplicidade de bandas que surgem todos os dias. É preciso fazer alguma coisa para se destacarem das demais. No entanto, notoriedade não é sinónimo de discos vendidos ou de concertos cheios: «Awareness não é igual a consumo.»

João Vieira, fundador dos White Haus, afirma que qualquer um pode lançar uma música. Existem aplicações móveis para criar o design de um álbum e para criar um site, por exemplo, simplificando todos os processos inerentes ao lançamento de um artista. «Destacares-te é mais difícil, tens de te dedicar mais», considera o músico, acrescentando que também a comunicação social cresceu e já não existem apenas dois ou três sites conceituados e dedicados ao tema.

Direitos na era digital

Por entre mais de uma dezena de painéis que preencheram a programação da primeira edição do MIL, houve espaço para discutir também os direitos musicais na era digital em que nos encontramos. A coroa está entregue ao streaming que, apesar do revivalismo associado ao vinil, mantém o seu caminho enquanto principal meio de consumo de música. Perante esta nova realidade, a questão que se põe é: como saber se os artistas estão a ser justamente remunerados?

Ao comprar um álbum físico, as regras são claras, bem como a repartição do valor. No caso do streaming e das visualizações em plataformas como o YouTube, nem tanto. Transparência é a palavra que não quer calar, uma necessidade a nível internacional.

Uma das formas de dar um passo em frente nesta questão é através de associações independentes, que podem trabalhar junto dos gigantes tecnológicos, como a Google e Apple, defendendo os direitos dos seus membros.

Regresso confirmado

No próximo ano, o MIL vai ter lugar novamente em Lisboa, entre os dias 5 e 7 de Abril. O evento pretende ser um encontro anual de profissionais do sector para que, juntos, possam discutir ideias e tendências, participar em acções de formação e realizar negócios. Também a vertente de entretenimento regressará, já que só assim pode ser dada a conhecer a música portuguesa, potenciando a internacionalização da mesma.

Além de artistas nacionais, o MIL acolherá, tal como já aconteceu nesta primeira edição, bandas de outros países de língua portuguesa ou não, desde que queiram viajar até Lisboa para mostrar projectos originais.

Texto de Filipa Almeida

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