Longa vida ao conteúdo! 6 lições a retirar do Web Summit 2022

Em tempos, imaginar que alguém teria como trabalho pilotar um avião para transportar diariamente pessoas de um país para outro terá parecido absurdo. Também a ideia de alguém ganhar dinheiro a partir das redes sociais terá soado estranha há uns anos, mas hoje é uma realidade e há novas profissões a nascer neste contexto.

É o caso dos influenciadores e dos criadores de conteúdos, que fazem das plataformas digitais o seu local de trabalho. Aqui, têm acesso a audiências vastas, (quase) sem barreiras geográficas, mas nem tudo será tão fácil como parece e conseguir um ordenado requer planeamento, conhecimento e estratégia.

As redes sociais serão os novos gatekeepers do conteúdo, uma vez que conseguem limitar o alcance das publicações e o tipo de textos, imagens ou vídeos partilhados – à semelhança do que acontece com o director de programas de um canal de televisão, por exemplo. Os criadores de conteúdos estão, por isso, nas mãos destas plataformas. Ou não?

Na edição deste ano do Web Summit, este foi um dos temas abordados, dando o mote a várias conversas e painéis. Destas trocas de ideias fica a certeza de que o conteúdo não vai a lado nenhum, mas que a abordagem terá de mudar, tanto do lado dos criadores como das redes sociais – que devem assumir um papel mais consciente e responsável, tendo em conta a influência que têm, especialmente nas gerações mais novas.

Eis seis lições a retirar do Web Summit 2022 no que ao conteúdo diz respeito:

1 – Geração Z consome informação através das redes sociais. Mais jovens não confiam nos meios tradicionais

O vídeo não matou a rádio e as redes sociais também não colocarão um ponto final nos meios de comunicação tradicionais, mas a verdade é que a Geração Z não confia nos noticiários nem nos jornais. Preferem consumir informação a partir das plataformas onde já passam o resto do seu tempo: Instagram, TikTok, Facebook e Twitter, entre outros.

No entanto, esta mudança de paradigma tem problemas à espreita: a informação divulgada nas redes sociais corre o risco de ser instrumentalizada de forma a manipular os utilizadores, lembram Subrata De (Vice), Judith Nwandu (The Shade Room) e Ann Curry (ex-NBC News). Sendo plataformas relativamente recentes (especialmente o TikTok), a moderação de conteúdos e as ferramentas anti-desinformação ainda não estão afinadas.

2 – Meios de comunicação social também são marcas

Os meios de comunicação social terão como principal objectivo informar, mas importa não esquecer que estamos perante um negócio como qualquer outro e que o lucro também faz parte do plano. Segundo David Rubin (The New York Times), isto quer dizer que os jornais e revistas devem ser vistos e trabalhados como marcas, colocando em prática estratégias de Marketing através das quais contem as suas próprias histórias – e não apenas as de outras pessoas.

3 – Relação com os seguidores é chave para transformar views em receita

Ter milhões de seguidores ou lançar um vídeo que se torna viral é importante para chamar a atenção e ganhar notoriedade, mas como transformar estas audiências em dinheiro? A monetização do trabalho dos criadores de conteúdos foi um dos temas quentes do Web Summit, uma vez que é cada vez maior o número de pessoas a tentar a sua sorte nesta profissão – mas apenas 1% ganha, de facto, quantias milionárias.

Um dos segredos apontados por Cassey Ho (Blogilates) passa por criar uma relação com os seguidores, sendo consistente nos conteúdos publicados (em termos de cadência, por exemplo) e explicando as motivações por detrás de cada parceria ou novidade.

4 – Criadores de conteúdos devem diversificar o negócio  

Outra sugestão apontada para os criadores de conteúdo melhorarem a receita passa pela diversificação do negócio. Em vez de contarem apenas com a monetização das redes sociais, estes profissionais devem considerar uma expansão para o mundo físico através do lançamento de produtos e serviços.

Cassey Ho (Blogilates) refere que a sua ambição é tornar-se uma legacy brand, para que a marca perdure para lá das redes sociais e dos conteúdos que cria. E o objectivo parece estar a ser cumprido: apenas 1% da sua receita chega da publicidade, ficando a maior fatia entregue à venda de produtos.

5 – Subscrições podem ser a salvação dos criadores de conteúdos

As redes sociais funcionam como intermediário entre os criadores de conteúdos e os seus seguidores, solução que poderá ser benéfica especialmente numa fase inicial, quando a comunidade ainda está a ser construída. Porém, em troca dessa ajuda, as redes sociais ficam com parte das receitas dos criadores de conteúdos, entregando-lhes apenas uma percentagem.

É neste cenário que surgem plataformas como Patreon e OnlyFans, que promovem uma ligação directa entre criadores e seguidores assente num modelo de subscrição. Quer isto dizer que os fãs de determinado artista, por exemplo, podem pagar-lhe directamente para aceder a conteúdos exclusivos. Nestes casos, não há algoritmos, as pessoas seguem outras pessoas de quem gostam. Também por isso, não há espaço para trolls, bots ou outro tipo de fontes negativas de comentários, garante Amrapali Gan, CEO do OnlyFans.

6 – TikTok prioriza autores de vídeos que são vistos até ao fim

O algoritmo do TikTok, a rede social que mais cresce a nível mundial, está constantemente a ser melhorado e optimizado, o que significa que aquilo que funciona hoje não será obrigatoriamente aquilo que resulta amanhã. Sean Kim, antigo head of Products no TikTok e actual presidente da Kajabi, revelou, porém, alguns segredos sobre a plataforma: o TikTok prioriza vídeos que sejam vistos até ao fim, bem como utilizadores cujo perfil seja visitado. Ou seja, se uma pessoa vir um vídeo completo e depois ainda clicar no criador para explorar o seu perfil e, eventualmente, ver mais vídeos da sua autoria, o TikTok entende que esta será uma conta a alavancar.

Texto de Filipa Almeida

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