João Lagos: «Com uma falha passamos a ser maus gestores»

1_2João Lagos (presidente da Lagos Sport) e António Câmara (CEO da YDreams) foram os convidados da mais recente TIP Talk da Marketeer, designada TIP on Challenge, que decorreu ontem ao final da tarde no Jardim de Inverno do Edifício Fidelidade (ex-Mundial Confiança), no Chiado, em Lisboa.

Sob o mote “Ultrapassar desafios, vencer contrariedades”, os dois convidados, cujos destinos de cruzaram, desde muito cedo, no mundo do ténis, falaram a uma plateia restrita sobre alguns dos projectos que mais marcaram o seu percurso profissional, bem como sobre as barreiras que tiveram que ultrapassar ao longo do caminho. E ainda há algumas feridas que estão por sarar. No mundo empresarial, «quando alguém tem uma falha, deixa de ter apetência ao risco para passar a ser um mau gestor», frisou João Lagos.

O antigo tenista profissional recordou alguns dos eventos desportivos que ajudou a organizar em Portugal, como quando trouxe, na década de 80, a lenda do ténis Björn Borg a jogar a Cascais «de uma forma completamente inesperada». «O ténis entrou pela primeira vez em televisão em Portugal. E eu ganhei um pouco de notoriedade, porque tinha sido o obreiro», contou João Lagos.

Na memória do presidente da Lagos Sport ficam também a organização do “Masters” – actualmente ATP World Tour Finals, uma competição entre os oito melhores tenistas do mundo – e do Rali Dakar. No primeiro caso, apresentou a candidatura apesar de saber, à partida, que era «praticamente impossível. Concorriam mais de 80 cidades, como Las Vegas, Moscovo ou Londres», recorda. No entanto, o apoio do Ministério da Economia e um «Pavilhão Atlântico novinho em folha» acabariam por ser trunfos decisivos para a vitória de Portugal, que organizou o evento em 2000. «Foi o maior sucesso e a partir desse ano foi o benchmark das candidaturas ao Masters», congratula-se.

Já a organização do Rali Dakar tem para João Lagos um sabor bem mais agridoce. Em 2008, depois de «dois enormes sucessos em trazer o Dakar a Lisboa», o empresário preparava-se para organizar a terceira partida da capital portuguesa quando ameaças terroristas na Mauritânia acabaram por ditar o cancelamento do evento. Pendentes ficaram os contratos com os sponsors, com as televisões, enfim, com todos os intervientes com os quais tinham sido assinados contratos. «Caiu-nos o Carmo e a Trindade em cima. Uma empresa da nossa dimensão não tinha qualquer tipo de recurso para fazer face a um motivo de força maior como este, nenhum tipo de seguro. Ainda hoje não estou completamente refeito», afirmou João Lagos.

Também a tecnológica YDreams vive hoje dias menos fulgurosos. Fundada em 2000, a empresa começou por desenhar um software de mapas para a britânica Vodafone (na altura concorrendo com a Tom Tom), que chegou a fazer uma proposta de aquisição pela então startup portuguesa. «Nós, fundadores, achámos que íamos ficar milionários», confessou António Câmara. A experiência viria a ensinar-lhe, entre outras coisas, que «na área tecnológica temos que saber comunicar. Não posso chegar a uma feira em Los Angeles e dizer que sou o melhor quando todos os outros dizem o mesmo.»

No final, um conselho para todos os jovens e empreendedores do País: «Não podemos cometer erros fatais – e nós [na YDreams] já estivemos quase –, nunca podemos desistir e temos de aproveitar sempre as oportunidades», disse António Câmara. «No ténis o mais difícil é recuperar das derrotas e na vida empresarial é igual», concluiu.

Texto de Daniel Almeida

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