Por Sylvia Bozzo, Marketing manager do Imovirtual
A Inteligência Artificial (IA) já não é uma promessa distante — é uma realidade transversal que está a reconfigurar o marketing tal como o conhecemos. De forma silenciosa mas poderosa, a IA está a alterar tanto a forma como as marcas se relacionam com os consumidores como o modo como os profissionais planeiam, executam e analisam estratégias. Se, há poucos anos, esta tecnologia era vista como um suporte adicional, hoje é uma componente central da diferenciação e da competitividade.
Uma das primeiras transformações visíveis acontece na forma como os consumidores procuram a informação, no qual a ascensão das IA generativas, como o ChatGPT, está a mudar os hábitos de pesquisa: deixámos de fazer apenas perguntas diretas nos motores de pesquisa tradicionais e passámos a procurar respostas mais contextuais, conversacionais e personalizadas. A integração de snippets gerados por IA no topo do Google ou o crescimento de pesquisas por voz através de assistentes como a Alexa ou o Google Home exigem uma nova abordagem à criação de conteúdos e à otimização para motores de pesquisa. As marcas que continuarem a apostar apenas em SEO tradicional arriscam-se a desaparecer das novas zonas de visibilidade digital.
Neste novo cenário, a pergunta que se impõe é: como é que a tua marca se está a preparar para isto?
Do lado dos profissionais de marketing, a IA já é uma aliada presente no dia a dia, uma vez que as ferramentas com inteligência artificial ajudam a automatizar tarefas, a personalizar experiências e a extrair insights valiosos a partir de grandes volumes de dados. Seja no agendamento e criação de conteúdos, na análise de dados de performance, na geração de criativos para campanhas ou até na construção de apresentações, o marketing tornou-se cada vez mais eficiente — e mais imediato. Os chatbots evoluíram de simples scripts para assistentes inteligentes que conseguem gerir leads, responder a dúvidas complexas e manter a consistência da marca 24/7.
Mas este avanço não é igual para todos. A maturidade digital continua a diferenciar grandes empresas de PMEs. Se por um lado as grandes marcas já integram IA nas suas equipas, processos e plataformas, muitas pequenas empresas ainda enfrentam barreiras como falta de recursos, conhecimento técnico ou receio de mudança. Ainda assim, usar IA de forma eficaz não é só uma questão de acesso à tecnologia — é uma questão de mentalidade. A maior tentação de quem entra neste mundo é automatizar tudo e cair na ilusão de que a máquina substitui a estratégia. Mas os profissionais de marketing não serão substituídos pela IA. Serão substituídos por quem souber utilizá-la bem, sendo que o verdadeiro ganho está em libertar tempo das tarefas operacionais para poder investir onde o humano ainda é insubstituível: na criatividade, na estratégia e na vivência de marca.
A integração ética e responsável da IA no marketing também deve ser uma prioridade. A recolha de dados, a privacidade dos utilizadores e a transparência nos algoritmos são preocupações reais. A evolução da legislação (como o GDPR ou a futura AI Act) obriga as marcas a serem cada vez mais cuidadosas — mas também mais conscientes. O uso inteligente da IA não é apenas técnico; é também uma escolha de valores.
Por fim, a IA deve ser vista como um acelerador, e não como um atalho. Pode ajudar-nos a ser mais rápidos, mais precisos e mais eficientes. Mas não nos pode substituir no que o marketing tem de mais humano: a empatia, a leitura do contexto e a construção de mensagens que realmente criam ligação.
Num tempo em que a informação é abundante e os canais são infinitos, o papel da IA é filtrar o ruído. O nosso papel, enquanto profissionais, continua a ser encontrar o que importa — e comunicar com verdade, criatividade e relevância.