Impacto da transformação digital na sociedade

Texto de Ricardo Teixeira, CEO da DigitalWorks

Longe vão os tempos em que estávamos confinados às lojas de rua da localidade onde vivíamos. Eram sem dúvida mais rentáveis para Portugal e para os empresários portugueses, embora fossem também mais limitadores nas nossas escolhas, éramos mais fáceis de contentar com a pouca oferta que existia na altura e mais felizes assim.

As brincadeiras eram à base da criatividade, fossem elas à apanhada ou às escondidas, fazíamos bricolage infantil, pois lembro-me desde cedo de fazer trotinetes, afiar ferros para jogar ao espeta, roubar tubos de electricidade nas obras para fazer espingardas de cartuchos de papel, bem como fazer fisgas com paus de árvores.

Os nossos avós sonhavam que os nossos pais fossem médicos ou advogados e as mães professoras ou enfermeiras, os nossos pais queriam que fossemos engenheiros.

Mas… e tudo o digital mudou!

As crianças de hoje já não brincam na rua, nem colocam a hipótese de fazer um brinquedo com recursos de ferro velho e paus. Algo extraordinário para eles tem que ser algo que ainda vai ser lançado e que eles querem ser os primeiros a ter, e claro, que não é nacional, nem de uma marca qualquer, tem que ser top mundial, sejam gadgets, jogos ou outra coisa qualquer que está na berra.

Já não brincam uns com os outros, chegam mesmo a comunicar por sms na mesma sala, jogam horas a fio online. São tímidos e não comunicam, vivem no seu mundo no seu quarto, fechados e agarrados ao PC ou telemóvel.

Nós, pais, queremos que eles sejam alguém na área das tecnologias, pois isso é o que “está a dar” e ouve-se falar de exemplos que ganham milhões a fazer vídeos para o YouTube e com blogs, ou que criaram uma aplicação ou site que foi vendido por milhões ou biliões à Google ou Microsoft.

Esta geração não vê televisão, vê tudo online. Não lê jornais nem revistas, discute temas mais interessantes em fóruns ou no Reddit, tudo em inglês. Já não se lembra sequer que existiram CD’s nem DVD’s, tudo para eles é obviamente online. Tudo é free em troca de publicidade, tudo é monitorizado com o objectivo de antever tendências, vendas e acelerar processos.

O próprio dinheiro está a começar a enfrentar desafios com o dinheiro virtual a ganhar cada vez mais adeptos e a ser cada vez mais aceite em pagamentos online, bem como a ser usado para grandes transacções. De tal forma que a valorização do dinheiro virtual tem tido crescimentos superiores a 100% ao ano.

Felizmente há inovações que estão a potenciar os negócios tradicionais, por exemplo o Airbnb que aluga apartamentos para férias, o Uber que veio mexer no negócio carunchoso dos táxis, o Booking que veio potenciar o negócio da hotelaria, o comércio online veio salvar as transportadoras e até negócios caseiros e tradicionais.

Os ladrões do futuro também eles serão e já são tecnológicos, sendo o ano de 2017 um ano com foco na segurança, pois sejam “assaltos” aos bancos, a empresas, casas ou a carros, cada vez mais estes são feitos com recurso às tecnologias. Os bancos porque têm os seus sistemas online, as casas e os carros porque cada vez mais são controlados por apps mobile e sistemas online, e as empresas são surpreendidas com os seus PC’s e servidores encriptados pedindo em troca bitcoins para poderem voltar a ter acesso aos seus dados.

O processo de transformação digital que estamos a viver é equivalente à revolução industrial do século XVIII e XIX, a grande diferença é o tempo da mudança, pois se a revolução industrial demorou mais de 100 anos, a mudança da transformação digital irá ser em menos de 10 anos. Como tal, quem a nível pessoal, profissional ou os negócios não acompanhar esta grande mudança, estará literalmente fora!

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