Green Friday: o reverso da Black Friday

Por Andreas Wilfinger, CEO da marca austríaca de cosméticos e suplementos veganos e sustentáveis Ringana

Como todos os anos, a Black Friday está a chegar, com promoções agressivas, conferindo latitude total a um consumo excessivo, impulsivo e difícil de controlar.

Este evento marca também o arranque do período mais comercial do ano: a quadra natalícia. Embora os efeitos nocivos deste consumo excessivo, tanto para o meio ambiente quanto do ponto de vista social, já não sejam desconhecidos, a maioria das indústrias ainda não parece realmente determinada a colocar o pé no travão.

Importada timidamente para Europa em 2013, a partir dos Estados Unidos, a Black Friday explodiu em popularidade a partir de 2016. Paralelamente, um movimento “anti-black friday” começou a surgir, por oposição a esta data que estimula o consumismo. Este protesto, que tem vindo a ganhar relevância desde 2019, já não é só seguido apenas por grupos de consumidores. Cada vez mais empresas, geralmente comprometidas com o meio ambiente, assumem a pesada responsabilidade de não participar nesta celebração do consumo, onde em poucos dias o volume de negócios pode subir exponencialmente. O seu objectivo vai além do desafio comercial: estas marcas desejam, acima de tudo, promover o consumo fundamentado e sustentável, a qualidade dos produtos e a transparência ao longo da cadeia de produção.

Participar na Black Friday, infelizmente, não é trivial do ponto de vista ambiental. Repercussões em termos de consumo de energia, exploração de recursos naturais, superprodução de resíduos devem ser colocadas. Quando uma empresa faz um compromisso duradouro, deve estar disposta a fazer concessões para permanecer consistente com a sua filosofia de crescimento. Reduzir desperdícios, controlar a sua cadeia de produção e limitar intermediários é olhar de forma comprometida para o futuro. Essas metas de sustentabilidade perdem o seu impacto se uma empresa decidir participar em eventos que motivam o consumo desenfreado, simplesmente pela voracidade financeira.

Seja privilegiando cadeias de distribuição mais curtas, tanto ao nível de fornecedores e distribuidores, como através de modelos baseados na sinergia de recursos, os profissionais e consumidores têm muitas possibilidades de mudar os seus hábitos de consumo. Se queremos evitar um desastre ecológico, é dever das empresas apoiar os compradores para o consumo responsável. Isso requer uma revisão estratégica do modelo de negócios das empresas. Pequenas acções podem mudar os hábitos, como por exemplo incentivar os clientes a reciclar ou a devolver embalagens para reutilizar posteriormente. São passos simples, mas altamente eficazes,  e uma forma de reforçar a lealdade e a responsabilidade.

É indiscutível que apenas uma mobilização conjunta dos consumidores e das grandes indústrias permitirá estimular uma mudança real de comportamentos. Sem este acordo, os esforços de alguns serão varridos pela inacção de outros.

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