Fotografias ao lado de carros

Por Ricardo Cardoso, Marketing manager Standvirtual

Embora a indústria automóvel valha cerca de 3 biliões de dólares e existam mais de mil milhões de carros em todo o planeta, estes números são insuficientes para explicar tudo aquilo que realmente significam os carros.

Os carros têm uma função clara, normalmente associados a independência e conforto na vida de quem os tem. Além disso, são companheiros de viagem, guardam segredos e de vez em quando até agem de forma terapêutica, mas estes atributos também não são suficientes para explicar tudo aquilo que realmente significam.

Os carros são os únicos objectos que fazem as pessoas parar e tirar fotos ao seu lado. Quero dizer, fotos ao lado de carros que estão estacionados na rua e que pertencem a outras pessoas. Repare que não há memória de ver pessoas a pousar à frente de uma casa, só porque tem uma fachada bonita. Nem ao lado de qualquer outro bem alheio. Essa vontade de registar o momento com uma fotografia não existe, se não com estes veículos.

Nesta categoria os carros concorrem com famosos a quem se pede uma selfie, sem a parte de ter que pedir. O facto de não ser preciso permissão ajuda, mas será a principal razão para este comportamento? Não.

Por trabalhar no mercado automóvel, tenho a curiosidade de perceber o que faz dos carros uma espécie de celebridades em quatro rodas.

A melhor comparação são os pokémons. Por exemplo, os carros icónicos são como os pokémons, porque nos fazem sentir que os temos de apanhar. É como se uma pessoa soubesse que existe aquele exemplar único e, de repente, saído sabe-se lá de onde, um pokémon raro ali mesmo à nossa frente.

Para algumas pessoas capta-se o momento com o olhar, mesmo que isso implique interromper uma conversa. Para outras há uma luta que tem de ser travada. Tira-se a fotografia que o vai apanhar, como se o bicho fugisse para sempre, caso o encontro não seja registado. Já dizia a Internet: pics or stfu.

Mas os carros não são diferentes dos outros objectos apenas pelo magnetismo criado na rua. Existe uma personificação comum deste ser inanimado, que acontece sempre que alguém se refere ao próprio carro com um nome inventado (normalmente carinhoso) ou quando fala dirextamente com ele, num monólogo inconsciente.

Depois ainda há o amor ligado ao primeiro carro. Não interessa os problemas que nos deu, é um amor incondicional. Uma memória que não se apaga e um sentimento que não se substitui, venha o topo de gama que vier.

Estamos perante um produto especial, com formas muito particulares de ser vendido e que preenche os sonhos de muita gente desde a tenra idade. E por isso até há pessoas que tiram fotografias ao lado de carros. Desconfio que só não se pedem autógrafos porque esse hábito caiu em desuso, mas isto já não posso confirmar.

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