A promessa de eliminar barreiras linguísticas nunca foi tão real. Em maio, o Google lançou um tradutor simultâneo de fala inglês-espanhol, alimentado pela inteligência artificial Gemini, disponível para assinantes AI Pro. A equipa da Locaria, empresa especializada em linguística e localização, decidiu colocar a ferramenta à prova, num teste que combina reuniões de negócio, linguagem informal e expressões idiomáticas.
O resultado? Uma solução que já facilita reuniões internacionais, com tradução clara e fiável em contextos formais e técnicos. “Para equipas globais, esta ferramenta pode reduzir significativamente os silêncios incómodos e repetições frequentes”, afirma Hannes Ben, CEO da Locaria e poliglota, que destaca o potencial para incluir idiomas raros e regionais em conferências globais.
Pontos fortes e pontos fracos
Nas situações mais estruturadas, como apresentações e atualizações corporativas, o tradutor brilhou — terminologias e números foram transmitidos com precisão. Já em conversas mais descontraídas, o sistema revelou fragilidades. Expressões idiomáticas populares, como “me levanté con el pie izquierdo” (“acordei com o pé esquerdo”), foram traduzidas literalmente, perdendo o sentido figurado. Outro exemplo: “derramé el café encima de la camisa” virou “I broke my coffee on my shirt” (“quebrei o meu café na camisa”), uma tradução curiosa mas incorreta.
Na avaliação da Locaria, o desempenho em contexto empresarial situou-se entre 5 e 7 valores numa escala de 10, mas caiu para 3 a 4 em situações informais, chegando a 2 em termos de naturalidade e fluidez na tradução do inglês para o espanhol — resultando em frases robóticas e por vezes estranhas.
Outro desafio identificado foi o atraso na resposta da IA, que torna a ferramenta mais indicada para conversas por turnos do que para diálogos naturais, com interrupções e sobreposições comuns em interações do dia a dia.
O futuro da tradução em tempo real
Apesar das imperfeições, a inovação da Google abre caminho para uma nova era na comunicação global. Reuniões multilíngues sem barreiras, compreensão instantânea entre continentes e democratização do diálogo são possibilidades cada vez mais próximas da realidade.
Hannes Ben deixa uma reflexão pertinente: “Se a tradução em tempo real se tornar universal e fiável, será que o aprendizado de novos idiomas perderá a sua relevância? Ou será que a interpretação e tradução ficarão reservadas para os ‘mestres’ das línguas, aqueles que competem de igual para igual com a inteligência artificial?”.
Para já, a resposta fica em aberto, mas o caminho para a revolução da comunicação parece já traçado.