Estamos a matar o e-Commerce com as nossas próprias mãos

Opinião
Marketeer
01/06/2025
20:02
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01/06/2025
20:02
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Vivemos tempos frenéticos no comércio eletrónico. Promoções sem fim, métricas de vaidade, campanhas sem alma e um medo paralisante de não fazer barulho. Muitos de nós, marketers, andam a confundir performance com relevância e o resultado é uma indústria refém da sua própria ansiedade.

Vivemos na era do “barulho”.

Se uma campanha não gera reações, se uma newsletter tem poucos cliques, se um post não recebe emojis de aplauso… então não serve.

Pior: então falhámos.

A pressão para estar sempre “on”, sempre a comunicar, sempre a mostrar serviço, tornou-se insustentável. E, no meio desse frenesim, o marketing (especialmente o digital), transformou-se numa performance sem guião, em que o único objetivo é gritar mais alto do que os outros.

Mesmo que o conteúdo seja vazio. Mesmo que a marca se dilua. Mesmo que o cliente, no fim, nem perceba o que lhe estão a vender.

E, no e-Commerce, isso vê-se de forma ainda mais crua: o mercado está completamente viciado em promoções!

É como se tivéssemos injetado adrenalina no funil de vendas e agora ninguém sabe viver sem ele.

Hoje, muitos marketers já não sabem lançar uma campanha sem um desconto. Marcas inteiras tornaram-se dependentes de códigos promocionais e de calendários comerciais que mais parecem festivais de saldos.

E o mais irónico? Somos nós os culpados!

Sim, nós.

Os mesmos que falam de diferenciação, de propósito de marca, de storytelling. Mas que, à primeira pressão de vendas, disparam cá para fora mais uma campanha “-20%, só hoje”.

Mais um push. Mais um banner com urgência fabricada.

E o cliente? Aprendeu connosco.

Aprendeu que basta esperar. Que a campanha de hoje é igual à de amanhã e que os preços nunca são os “verdadeiros”.

E a marca? Tanto faz…

Porque não há relação. Não há compromisso, nem alma.

O e-Commerce está a viver um burnout silencioso.

Vê-se nos ROAS forçados, nas margens encolhidas, nas taxas de retenção miseráveis.

E, ainda assim, insistimos no mesmo ciclo.

Porque “resulta”. Porque o PowerBI fica bonito. Porque alguém tem de mostrar picos no fim do mês naquele dashboard xpto.

Mas sabe o que não dá para medir no GA4? A saturação. O cansaço do cliente. A erosão do valor da marca.

E é aqui que está o verdadeiro drama: confundimos barulho com relevância. Confundimos alcance com impacto. Performance com propósito.

Estamos a sacrificar o longo prazo em nome do imediato. Estamos a normalizar o ruído. Estamos a educar o consumidor a só reagir quando lhe damos algo (e nunca quando lhe dizemos algo).

E, depois, queixamo-nos. – “Ó, os clientes não são fiéis!”; – “O CPC está a subir…”; – “E o CRM? Já não converte.”; – “É cada vez mais difícil de surpreender o cliente!”.

Pois, claro que é. Então estamos todos a vender a mesma coisa, da mesma forma, com as mesmas armas… Promoções. Pressa. Push. Promessas. Repeat.

Basta. Está na altura de reeducar. De repensar. De parar para construir.

Sim, vai doer. Sim, vai demorar. Mas, se queremos que o comércio eletrónico sobreviva com dignidade, temos de sair deste ciclo tóxico.

E isso só começa quando nós, marketers, deixarmos de ser traficantes de atenção e de desconto – mesmo que, às vezes, pareçamos apenas reféns. E voltarmos a ser construtores de marcas. Está nas nossas mãos!


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