Empreendedores e Inovação!

manuel-forjaz-foto_rsHá milhares de ideias em milhares de fontes, disponíveis para quem quiser ficar com elas. Mas nesta fase de desenvolvimento económico, não será a inovação, no sentido da geração de ideias e conceitos, que mudará Portugal, mas sim os seus empreendedores os aplicadores da inovação.

Por Manuel Forjaz *

«Ser poderoso é como ser uma senhora. Se tem de dizer aos outros que o é, então é porque não é.», Margaret Thatcher, ex-primeiro-ministro britânico

Todos os empreendedores com quem falo, inovaram.

O Rui das Vitaminas e Cia, partiu dum conceito que já existia e melhorou-o substancialmente, alargando menus, reinventando o ponto de venda e comunicando. O António da Send It desenvolveu produtos novos e inovou na abordagem comercial. O Pedro da Nova Expressão melhorou os standards de serviço criando relações fortes com os seus clientes. A Leonor desenvolveu um sistema seguro e acessível de transporte de crianças. O Jorge, do Vila Galé, hotéis familiares, com boa localização e acessíveis à classe média que começava a viajar dentro do país.

Não revolucionaram nada, não encontraram a pólvora. Mas todos criaram negócios que acrescentaram valor e melhoraram a vida das pessoas e empresas, criaram empregos e geraram riqueza para eles próprios e para o país, acrescentando simultaneamente competição e afastando do mercado outros piores prestadores do que eles. Alguns dos seus negócios têm potencial de desenvolvimento nalguns mercados menos desenvolvidos do que o nosso.

Foram as inovações que produziram os empreendedores ou o contrário?

Mais simplesmente, se estas inovações tivessem sido lançadas por outros ter-se-iam perdido os empreendedores? Julgo que não.

Qual a importância das ideias? Do potencial de inovação?

Na minha modestíssima opinião, no actual estado do País, muito reduzida.

Há milhares de ideias em milhares de fontes, disponíveis para quem quiser ficar com elas: nas revistas de economia e gestão, nos sites das Business Schools, em blogs dedicados à inovação, em clubes de ideias, além de todas aquelas que nos aparecem no nosso quotidiano com óbvio e seguríssimo potencial de concretização.

Em 1999, apresentei pela primeira em conferência pública a que assistiram mais de 100 pessoas na Feira do Empreendedor da ANJE, num desafio que me foi feito ao vivo, uma lista de 50 ideias de novos negócios, dos quais nove se concretizaram nos últimos anos. Uma delas, a do andarilho eléctrico (mais tarde o Segway), curiosamente e apesar do grande aparato de marketing, sem atingir o potencial de sucesso que tinha estimado.

Por isso não será, nesta fase do nosso desenvolvimento económico, a inovação, no sentido da geração de ideias e conceitos, que mudará Portugal, mas sim os seus empreendedores os aplicadores da inovação.

«Como se explica que quando preciso apenas dum par de mãos tenha de lidar com um ser humano?», Henry Ford, o primeiro fabricante de carros para o povo

Portugal é um país pequeno, por isso as suas inovações terão sempre reduzido impacto no nosso pequeno mercado local.

A internacionalização da inovação não é um processo fácil a não ser que a inovação seja de tal modo relevante que não seja preciso vendê-la. Por exemplo, se alguma companhia portuguesa inventasse um champô que realmente fizesse nascer cabelos, seria seguramente um sucesso mundial.

Mas não há muitas inovações tão radicais como essa, em nenhum lado do mundo.

Quando o potencial de mercado é muito grande, p.e. ainda neste mercado da queda do cabelo, concorrem por ele empresas com um potencial de investimento que Portugal inteiro não tem. Por exemplo, o Propecia, único produto que se provou num determinado período, parar efectivamente a queda do cabelo, custou biliões de dólares a desenvolver. Obviamente a Merck, empresa que o desenvolveu, já recuperou e multiplicou o investimento muitas vezes.

Portugal não tem empresas com capacidade para investimentos em inovações de relevo mundial.

Elas por vezes acontecem, como aconteceu com Romão Mateus e os telemóveis Pré-pagos ou a Via Verde, e o importante seria estar atento e facilitar o seu aproveitamento à escala mundial. Na gestão da propriedade internacional, na rapidíssima propspecção e desenvolvimento comercial, no seu marketing.

Registar uma marca ou patente nos mercados internacionais custa muito dinheiro; ter acesso aos grandes compradores internacionais além de custar dinheiro, leva tempo demais sem convenientes e eficazes redes de apoio locais; desenvolver uma estratégia de visibilidade a nível mundial implica know-How e fundos, frequentemente indisponíveis nas empresas anãs portuguesas.

O Alberto Ramos é um amigo, que chegou a managing director da Goldman Sachs em Nova Iorque. Teve sucesso num mercado internacional tão competitivo como o dos bens e serviços transacionáveis. O Miguel Queimado é sócio dum gigante chinês do mercado da moda.

«Existirão dois tipos de executivos nos próximos cinco anos: os que pensam globalmente e os que estarão desempregados.» Peter Drucker, teórico da gestão

Ambos aceleraram os seus processos de networking e globalização. Há alguns anos, perceberam a importância da aprendizagem em ambiente internacional e foram fazer mestrados e phds para as melhores universidades. Aprenderam línguas, fizeram novos amigos, conhecerem novas culturas, aprenderam a estar atentos.

Ambos anteciparam tendências. O Queimado surfou à frente do tsnumami chinês associando-se a um gigante da moda local e preparando-se para projectos de moda internacionais da dimensão de Portugal. O Alberto compreendeu a futura importância dos mercados emergentes e passou alguns anos no FMI.

E ambos reconhecem regularmente as suas competências e incompetências, potenciando umas, corrigindo outras. O Alberto Ramos ainda passou uns meses na Lever como chefe de produto da Ponds até perceber que ali não ia a lado nenhum. O Miguel faz perguntas, milhares de perguntas a toda a gente reconhecendo sempre com enorme modéstia a sua juventude e inexperiência.

A inovação nasce neste caldo atitudinal.

Que pode ser nutrido nas universidades, o que começa a acontecer.

Que pode ser exposto nos media, o que começa a acontecer.

Mas sobretudo, e na sua aceleração pode ser exponenciada copiando as nossas best practices.

«A liderança produz a mudança. Essa é a sua função básica.» John Kotter, Guru de gestão de Harvard

O Victor, da Nfive vende os seus produtos, num mercado onde é líder mundial, através de escritórios de representação em 92 países. Tem escritórios da sua empresa em quatro países. Ministro da inovação, Já!

O João da Critical Software há muitos anos que tem entre os seus clientes multinacionais gigantes. Eu por mim nomeava-o Presidente do IAPMEI.

O Orfeu da StabVida vende os seus produtos e serviços de relevante inovação mundial num muito competitivo ambiente internacional. Eu por mim nomeava-o Presidente do ICEP.

Todos estes empreendedores são inovadores.

O segredo de qualquer governo devia saber usar o que sabem e contagiar o resto da comunidade. E o mais curioso, é que todos eles estão disponíveis…

Os espanhóis têm um dito “No por mucho madrugar amanece más temprano”, ou seja, não é por muito madrugar que amanhece mais cedo. Não se pense que basta inventar Vias Verdes, Telemóveis Pré-Pagos ou Pastéis de Nata para sermos um país de inovador. Porque depois de os criarmos, temos de ter quem os gira, quem os faça e quem os venda. E é isso que falta a Portugal. Finalmente quando aparece alguém, não os sabemos aproveitar.

 

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