Dois irmãos e um império: a sucessão familiar na Bertelsmann que parece saída de “Succession”

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Marketeer
13/06/2025
20:00
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Na pacata cidade alemã de Gütersloh, o futuro da Bertelsmann, um dos maiores grupos de media da Europa, está a ser disputado por dois irmãos: Carsten, de 38 anos, e Thomas Coesfeld, de 35 anos. Na semana passada, os herdeiros apresentaram-se como potenciais sucessores da liderança do conglomerado familiar, durante um encontro empresarial que quase se confundia com uma audição pública.

Ambos subiram ao palco perante os altos quadros da empresa para liderar palestras ao estilo “Ted Talk” sobre “crescimento” e “transformação”, deu conta o Financial Times.

A Bertelsmann, dona da editora Penguin Random House, da RTL e da editora musical BMG (que representa nomes como Kylie Minogue), atravessa um período desafiante com a instabilidade económica global, a guerra comercial dos EUA sob Donald Trump e a concorrência das plataformas de streaming. Já a sucessão parece saída de uma série da Netflix.

A decisão sobre quem sucederá Thomas Rabe como CEO — que deixa funções em 2026 — cabe a Christoph Mohn, atual presidente, e à sua mãe Liz, viúva de Reinhard Mohn, o visionário que transformou a Bertelsmann num gigante com receitas de quase 19 mil milhões de euros. A escolha deverá ser feita até ao final deste ano, ou, no máximo, no verão de 2026.

“É um momento realmente significativo na história da empresa”, indicou Thomas Schuler, autor de dois livros sobre a Bertelsmann, ao jornal britânico.

Quem ficará com o trono?

Os dois irmãos trazem experiências complementares. Carsten, com passado na Goldman Sachs, lidera atualmente o braço de capital de risco da empresa, com 370 investimentos no portfólio. É descrito como analítico e focado. Já Thomas, ex-McKinsey, dirige a BMG, convive com músicos como Lenny Kravitz e Bryan Adams e é conhecido pela sua energia e espírito aventureiro — numa ocasião chegou a pedir a um condutor de um carro desportivo da Xiaomi para acelerar de 0 a 200km/h sete vezes consecutivas.

No evento, o estilo de cada um foi notado: Thomas, de ténis e sem cartões de apoio, demonstrou maior descontração, enquanto Carsten manteve uma postura mais metódica. Apesar da competição, fontes internas garantem que a relação entre os irmãos é cordial.

A disputa tem raízes antigas. Ainda adolescentes, os irmãos foram questionados pelos avós, durante um lanche, sobre o seu interesse na empresa familiar. Ambos seguiram carreiras externas antes de ingressar na empresa, passando por diferentes divisões da Bertelsmann ao longo dos anos. A sua ascensão foi encorajada por Liz Mohn, apesar de serem descendentes da primeira mulher de Reinhard Mohn, Magdalene.

Com sede global ainda em Gütersloh, cidade de apenas 100 mil habitantes, a Bertelsmann é, segundo François Godard, analista da Enders Analysis, “um certo tipo de empresa alemã — provinciana mas global”. É também 100% detida pela família e fundações associadas, o que permite decisões com foco de longo prazo.

Thomas Rabe comprometeu-se a preparar “os rapazes” para a sucessão e quer deixar o grupo com receitas de 24 mil milhões de euros e lucros de dois mil milhões de euros. Christoph Mohn admite que ainda não está decidido o modelo de governação e não exclui a hipótese de os irmãos partilharem a liderança.

A sucessão está por decidir e os protagonistas já estão no palco. Resta saber quem leva a ‘coroa’.


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