Opinião de Rui Patarrana, cofundador da RankPanda – Consultoria em eCommerce SEO
Hoje é importante alinhar conceitos. Porque há mudanças a acontecer na SERP – e tudo indica que terão impacto direto na forma como os sites são encontrados e visitados.
Na Google I/O 2025, a mensagem foi clara: o motor de pesquisa quer evoluir para um motor de inteligência.
Pode parecer uma questão de linguagem… mas não é!
Pela primeira vez, a Google assumiu publicamente essa mudança de rumo, e apontou dois pilares como base desta nova fase:
- AI Overview
- AI Mode
O primeiro não é propriamente novidade, até porque foi lançado em 2023 com o nome SGE, porém começa agora a escalar. Funciona como uma nova “position zero” – alimentada por inteligência artificial. Respostas completas, geradas diretamente na SERP, muitas vezes antes sequer de existir um clique.
Este modelo começa a impactar seriamente o tráfego, mesmo em pesquisas que antes eram nitidamente comerciais.
Já o AI Mode vai mais longe.. pois oferece uma experiência de pesquisa mais fluida e conversacional. A inteligência artificial desdobra uma questão em várias outras, pesquisa em múltiplas fontes, cruza dados e apresenta uma resposta consolidada.
.. e é aqui que entra o conceito de query fan-out – a lógica que permite transformar perguntas complexas, em respostas geradas por múltiplas consultas simultâneas. Na prática, é uma transição da pesquisa activa para uma experiência assistida.
Quer queiramos, ou não, isso muda o jogo por completo.
O que já está a acontecer e onde o impacto é maior
Segundo a Datos (empresa pertencente ao grupo Semrush), os AI Overviews passaram de 6,49% para 13,14% das pesquisas entre Janeiro e Março de 2025.
Hoje, mais de 1,5 mil milhões de utilizadores mensais, em mais de 200 países, têm acesso ativo a este tipo de resultado.
As áreas com maior impacto:
- Ciências (+22,27%)
- Saúde (+20,33%)
- Sociedade (+18,83%)
- Direito e Governo (+15,18%)
Importa sublinhar que os AI Overviews não surgem apenas em termos informativos… e é aqui que se torna importante ter espírito crítico, e não ir atrás apenas e só do que a Google transmite, pois já estão visíveis em queries comerciais e com forte potencial de conversão – muitas vezes, sem qualquer presença de anúncios.
Como conseguimos medir tudo isto? Ainda é uma incógnita
O Google Search Console, por agora, não oferece dados sobre quais termos ativam AI Overviews.
Ou seja, o tráfego pode estar a passar.. mas sem deixar rasto.
Não é possível saber se uma página foi incluída, se houve cliques, ou se simplesmente serviu para treinar a resposta apresentada pela IA.
Algumas ferramentas podem dar apoio:
- SemRush para identificar keywords com AI Overview activo
- Highlighted.ai para acompanhamento visual das alterações na SERP
- GA4 com tracking customizado via Tag Manager (ainda com limitações, mas útil)
AI Mode, Deep Search e as novas camadas da pesquisa
Com o AI Mode, o processo de pesquisa deixa de ser linear. Passa a acontecer de forma assistida, recorrendo a diversas fontes e intenções.
A funcionalidade Deep Search foi criada para lidar com perguntas mais técnicas e exigentes, produzindo respostas baseadas em múltiplas camadas de análise.
Adicionalmente, surgem as chamadas Agentic Capabilities. A IA deixa de responder apenas e passa também a executar.
- Compara opções
- Sugere soluções
- Agenda reservas
Tudo isto apoiado nos Model Context Protocols (MCPs) – uma forma de conectar sistemas e plataformas externas à lógica de raciocínio da IA.
Em vez de apenas usar uma ferramenta, passa a integrar-se uma infraestrutura, por exemplo o ChatGPT está com um beta desta funcionalidade “Connectors” onde podemos ver este conceito a ser aplicado na prática.
Com esta nova camada de inteligência, a própria experiência de compra começa a mudar – e para os eCommerce, essa mudança pode ser profunda.
No AI Mode, as pesquisas de produtos são interpretadas com mais nuance. Termos vagos ganham precisão, contextos individuais são considerados e as recomendações tornam-se mais alinhadas com necessidades reais – como, por exemplo, “um tapete lavável de pelo baixo feito de materiais duráveis para uma casa com quatro crianças ativas”.
Esta nova lógica conjuga o modelo Gemini com o Shopping Graph da Google.. e quando ativada, gera mosaicos de sugestões visuais e compráveis, abrindo espaço a uma experiência que se aproxima mais de uma curadoria personalizada do que de um simples resultado de pesquisa.
Para as marcas, isto significa repensar a forma como estruturam os seus dados, alimentam os catálogos e otimizam os seus feeds de produtos… mas também exige atenção redobrada à forma como a marca é apresentada fora dos canais directos.
Porque agora, muitas vezes, a primeira impressão acontece dentro da própria interface da Google – mediada por IA, sem qualquer garantia de clique, e com cada vez menos espaço para a repetição.
A inteligência artificial não substitui a pesquisa. Reconfigura-a. A questão não é se haverá impacto… é onde, como e com que profundidade cada negócio estará preparado para responder.