Criatividade digital: Quando a IA começa a imaginar por nós

Opinião
Marketeer
17/06/2025
20:02
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Por Andreia Vieira, Unidade Desenvolvimento CESAE Digital

A criatividade, até muito recentemente, era vista como algo exclusivamente humano — um terreno onde a intuição, a emoção e a experiência ditavam as regras. Mas a inteligência artificial (IA), no seu estado emergente, está a reescrever esse paradigma a uma velocidade surpreendente. O que há pouco era “ficção científica” é, agora, parte do dia-a-dia de quem trabalha nas indústrias criativas. Temos algoritmos para tudo: escrevem guiões, criam ilustrações, compõem música, montam vídeos, geram campanhas. E fazem-no de forma autónoma, eficiente e — cada vez mais — com impacto emocional.

Não estou a falar apenas de automação de tarefas, mas de uma nova forma de expressão tecnológica. Ferramentas como o ChatGPT, DALL·E, Runway ou Sora não substituem os criativos, expandem-nos – amplificam ideias, exploram múltiplas possibilidades em segundos – libertando tempo para o pensamento estratégico. A criatividade, neste novo enquadramento, não desaparece — transforma-se. Passa a ser colaborativa, híbrida e, sobretudo, acessível a muitas mais pessoas.

E considero este um ponto essencial: a IA está a democratizar o acesso à criação. Quero com isto dizer que, pequenos negócios, freelancers ou jovens talentos sem grandes recursos conseguem, ao dia de hoje, produzir conteúdos com qualidade profissional, graças a estas ferramentas. Contudo, este é um movimento que obriga as agências, os departamentos de marketing e os media a repensar os seus modelos. O foco deixa de estar apenas no output criativo e passa para a curadoria, a originalidade da ideia e a capacidade de dar sentido ao que é gerado.

No entanto, importa ressalvar que esta revolução traz consigo questões éticas e desafios formativos. Saber usar IA para criar exige mais do que domínio técnico — exige espírito crítico, responsabilidade e literacia digital. Quem trabalha na comunicação deve assumir este debate de frente, com clareza e transparência. Não se trata de “esconder” o uso da IA, mas de integrá-la de forma ética e estratégica no processo criativo.

Falo também a partir da minha própria experiência: comecei na área criativa e digital, e hoje estou mais ligada à área tecnológica e à programação — onde a lógica e a estrutura ganham destaque. Mas, curiosamente, nunca senti a criatividade tão presente. Esta fusão entre código e criação mostra que estamos a viver uma nova fase, onde o pensamento criativo não desaparece — adapta-se e ganha novas formas. Os profissionais — tal como eu — querem compreender como podem tirar partido da IA sem perder a sua voz, o seu estilo, a sua autoria.

Se há uma grande lição nesta nova era, é esta: a criatividade não está em risco — está a reinventar-se e a expandir fronteiras. E é nesse novo território que o papel humano ganha relevância: não para competir com a IA, mas para a conduzir com propósito, sensibilidade e visão.


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