A era das compras telepáticas pode estar mais próxima do que se imagina e com ela, uma revolução (potencialmente distópica) para o e-commerce, a publicidade e o marketing. Startups como a Alterego estão a desenvolver dispositivos que permitem interagir com o mundo digital através de sinais mentais, sem a necessidade de voz, toque ou até mesmo implantes cerebrais invasivos como os propostos pela Neuralink.
O dispositivo da Alterego, que à primeira vista parece capaz de “ler a mente”, funciona com base em sinais conscientes. Só interpreta pensamentos deliberados, como comandos ou instruções específicas, respeitando a fronteira entre cognição interna e intenção comunicativa. Esta capacidade abre portas a uma nova geração de assistentes cognitivos pessoais, potenciados por inteligência artificial, capazes de antecipar necessidades e responder a estímulos visuais em tempo real.
Para o marketing e a publicidade, esta tecnologia representa uma mudança radical. Imagine um futuro próximo em que o consumidor, ao pensar que precisa de um novo par de sapatilhas, recebe automaticamente sugestões personalizadas, sem procurar, sem clicar, sem falar. O dispositivo capta essa microintenção e ativa uma cadeia de ações que culmina na compra. A experiência de e-commerce torna-se fluida, quase invisível, com a conversão a acontecer no exato momento em que o desejo surge na mente do consumidor.
A personalização atinge um novo patamar, não baseada em histórico de navegação, mas na atividade cerebral em tempo real. A publicidade passa a ser preditiva. Uma simples microexpressão de interesse, como olhar para um outdoor digital, pode desencadear uma campanha personalizada no smartphone do utilizador. As marcas deixam de persuadir para passar a antecipar e facilitar.
Mas este avanço também levanta questões éticas sérias. Até que ponto é aceitável que uma marca leia os pensamentos de um utilizador? Quem garante que essa informação não será explorada de forma abusiva? A chamada “privacidade neuronal” pode tornar-se uma das batalhas mais importantes da próxima década. Regulamentação, transparência e confiança serão fatores críticos para que estas tecnologias não resultem numa forma extrema de manipulação comercial.














