Como a Trix está a juntar a ficção à publicidade

Mudança será provavelmente a palavra que melhor define 2018 para a Trix. A produtora perdeu Manuel Sacadura, que deixa a sociedade para iniciar uma nova fase da sua vida, e percebeu que estava na altura de repensar a gestão e estratégia, apostando em novas áreas e fortalecendo outras.

João Sacadura, co-fundador e director criativo da Trix, acredita que o próximo ano será de implementação e consolidação das mudanças que têm vindo a ser desenhadas. «Precisamos de tempo e estabilidade para desenvolver e percorrer os caminhos traçados», conta à Marketeer, acrescentando que são vários os projectos já em curso, incluindo além-fronteiras.

Desde há vários anos que a Trix colabora com diferentes países, mas França é um caso de especial sucesso e a ligação a este mercado é para reforçar. «A relação com França começou como muitas das boas relações: por um acaso. Através de um realizador com quem colaboramos, que nos apresentou a alguns clientes e com quem começámos uma relação de confiança», conta, explicando que o modelo aplicado não é de production services, como «tantas produtoras fazem em Portugal, em que fornecem serviços a produtoras estrangeiras». No caso da Trix, é prestado um serviço integrado, com realização e produção, entre outros. Somente o áudio é feito em França.

«Claro que esta experiência nos pode abrir portas em outras agências e queremos aproveitar o bom francês que falamos na Trix, e a boa imagem que França tem de Portugal, para abrir mais portas e criar mais relações de trabalho com mais clientes», avança João Sacadura.

Quanto à estrutura da Trix, há pelo menos dois aspectos que importa realçar. Por um lado, a produtora está a reforçar o departamento de animação, que está na génese da empresa e que ganha, agora, cada vez mais relevância. «Começámos por ser uma produtora exclusivamente de animação e efeitos», lembra o co-fundador, indicando que com o passar do tempo e evolução do negócio, no seguimento de alguns projectos “avulso”, começaram a trabalhar também com imagem real. «É inquestionável que o Manuel Sacadura, que saiu em Janeiro deste ano, era a “cara” da animação da Trix. No entanto, não era a única pessoa ligada à animação: temos uma equipa de animadores e pós-produtores que integram a nossa equipa e que continuam a trabalhar diariamente nos processos em curso. Em termos de realização, colaboramos com vários realizadores, com especial destaque para Lorenzo Degl’Innocenti», conta João Sacadura.

O responsável justifica esta aposta na animação não só com o facto de fazer parte do ADN da Trix mas também com o potencial desta técnica, especialmente a nível internacional – tanto pelo processo, fácil de levar para diferentes países, como pelo resultado, uma vez que é simples dobrar vozes. Há ainda a questão da liberdade visual que a animação permite: «Tanto se pode contextualizar um local numa referência regional, como se podem criar ambientes mais anónimos ou abstractos e, portanto, sem georreferenciação. Isso também está na génese do nosso interesse em conteúdos de ficção, pelo potencial de internacionalização dos mesmos», avança João Sacadura, indicando desde já uma nova área de negócio em que a Trix começa a dar passos mais acertados.

Apesar de a publicidade ser o core business da Trix, a produtora está a explorar o campo da ficção, que envolve projectos mais de fundo e mais longos. Para João Sacadura, a publicidade é uma escola incrível e representa uma oportunidade fantástica de trabalhar em projectos com tanta adrenalina como recursos. No entanto, acrescenta, «é um mercado volátil, muito dependente do consumo e da economia, e bastante sazonal». A ficção, por outro lado, tem um tempo de maturação maior, dá para «afinar, rever, repensar», além de que «99% das pessoas que trabalham na área de produção de imagem e som, gostam de histórias, de projectos narrativos e pertinentes, de deixar obra feita, conteúdos intemporais».

E de onde vem o dinheiro necessário para estas produções? Uma vez que, ao contrário da publicidade, a rentabilização vem depois do conteúdo produzido, a Trix conta com quatro fontes: capitais próprios, subsídios estatais, pré-vendas e patrocínios – embora João Sacudura prefira apelidá-los de «investimento em comunicação de empresas», já que é feita uma proposta de comunicação e não de patrocínio, que pode ir de product placement directo ou referência à marca em acções promocionais.

«A publicidade será, pelo menos nos anos mais próximos, o negócio principal da Trix. Temos uma enorme experiência e contactos nesta área, um portefólio sólido e muito bom, uma equipa rodada e a rodar bastante. Assim, a nova área é que tem de criar o seu espaço, e que queremos acrescentar ao nosso core – que é e será a publicidade e comunicação de empresas», conclui João Sacadura.

Texto de Filipa Almeida

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