Comércio de proximidade, de hoje e de sempre

Por Carla Esteves, directora executiva da Sociedade Aqui é Fresco

Passados mais de seis meses após o aparecimento da pandemia de Covid-19, que afectou o mundo e veio alterar, irremediavelmente, as nossas vidas, nomeadamente o modo como vivemos, socializamos e consumimos, estamos ainda muito longe de perceber verdadeiramente o seu impacto real.

O confinamento obrigatório durante um período considerável, a continuidade, em muitas empresas, do teletrabalho, levou e continua a levar muitos de nós a evitar o convívio, preferindo a segurança e conforto do nosso lar, levando a que se reequacionasse, entre muitos outros, os nossos hábitos de consumo – apesar destas alterações de comportamento por parte do consumidor, sobretudo alavancadas pelas circunstâncias impostas pela pandemia, os números apurados pela Comissão Europeia não deixam de reflectir algum conservadorismo dos portugueses nisto de comprar online: em Portugal, apenas 44,8% dos cidadãos se movimenta pelo e-commerce sem grandes cerimónias, percentagem essa que fica muito aquém da média da União Europeia (72%).

Em Abril do corrente ano, registou-se um fenómeno bastante curioso. Face às condições particulares, o que se tornou um hábito para muitos portugueses para o Aqui é Fresco sempre foi a premissa base da sua existência, ou seja, a proximidade das suas lojas, o atendimento personalizado, a par da conveniência do seu serviço. Sempre defendemos, e acreditámos, no potencial do comércio de proximidade e facto é que os portugueses pueram contar, quando mais precisaram, com este canal de comercialização que, desde sempre, nos habituou a ter do outro lado do balcão quem nos conhece pelo nome e pelo rosto.

É bom fazer compras no comércio de proximidade, seja pelo seu cariz intimista, mais personalizado, onde as compras chegam a casa, entregues por um rosto amigo e onde a nossa imensa rede de lojas tem permitido, ao longo dos quase dez anos de existência, reactivar costumes antigos, mas sempre de saudar. Um “regresso ao passado” que permitiu fazer frente, de forma inequívoca, aos prazos mais dilatados que as lojas alimentares online chegaram a praticar no pico da pandemia. Aliás, a população portuguesa está a comprar e a gastar mais nas mercearias de bairro. Na última semana de Maio passado, por exemplo, foram registadas mais de 13% de transacções no retalho alimentar tradicional, tendo a facturação neste segmento aumentado 28% em relação ao período pré-pandemia do Covid-19, enquanto o valor médio subiu de €18,51 para €21,03, segundo o Reduniq Insights.

A entrega no conforto do nosso lar, em curto espaço de tempo, traduziu-se numa grande vantagem, especialmente para os grupos considerados de risco. Foi imenso o “terreno” que os aderentes conseguiram ganhar nas muitas comunidades onde se fazem representar, quando mais as populações locais de si necessitaram.

E entre as razões apontadas para esta escolha (sensata, no meu entender), encontram-se a conveniência, filas menores face aos supermercados, assim como a ausência de deslocações. Tudo aquilo que temos posto em prática. De acordo com dados da plataforma SIBS Analytics, entre os meses de Março e Agosto deste ano, as compras realizadas em comércio tradicional verificaram um aumento de 44% face ao período homólogo de 2019.

Mas o facto de sermos considerados “tradicionais” não quer dizer, necessariamente, que não possamos abraçar a mudança e elencar um conjunto de vantagens ao dispor dos nossos consumidores e aderentes, ao abrigo das mais inovadoras ferramentas tecnológicas. Parte integrante da nossa acção colectiva e que permite abraçar o futuro com outro entusiasmo, com o comércio de proximidade a dar resposta aos grandes desafios quotidianos que são colocados a toda a actividade comercial no presente contexto. Continuamos, no entanto, a viver tempos delicados, sem prazo para acabar, com a duração desta crise a ser determinante para a dimensão final do problema económico gerado.

Em suma, seja qual for o desfecho desta situação de impacto imprevisível, o comércio de proximidade demonstrou, uma vez mais, que nos bons e nos maus momentos, soube e vai estar ao lado dos portugueses e podemos afirmar que está, e continuará a estar, na linha da frente.

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