Cheirar bem é uma escolha ou uma obrigação social? A resposta pode surpreendê-lo

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Marketeer
06/07/2025
12:00
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À medida que as temperaturas sobem, tiramos camadas de roupa e passamos mais tempo em espaços públicos — da praia ao metro, dos parques aos eventos sociais. Naturalmente, este também é o momento do ano em que o nosso olfato se torna mais ativo: sentimos (e somos sentidos por) quem nos rodeia.

Neste contexto, levanta-se uma questão curiosa, mas cada vez mais relevante: usar desodorizante deve ser considerado parte do contrato social? Ou seja, há uma espécie de obrigação implícita de “não incomodar” com o nosso odor corporal?

Há hoje em dia uma infinidade de opções no mercado de desodorizantes: sprays, roll-ons, cremes corporais, toalhitas, pós e versões naturais e sem alumínio. Este é um setor global avaliado em mais de 27 mil milhões de dólares por ano. Ninguém quer cheirar mal — ou pelo menos, é o que se pressupõe.

Mas o tema está longe de ser consensual.

Como explica a dermatologista norte-americana Dr. Alicia Zalka, “o conceito de ‘cheirar bem’ está historicamente ligado ao privilégio social.” Antes de existirem sistemas de canalização moderna, perfumes e pós eram usados pelas elites para mascarar o cheiro corporal. Ter acesso à higiene regular era, em si, um sinal de estatuto.

Hoje, ainda carregamos essa herança. “A higiene pessoal, incluindo o uso de desodorizante, é uma forma de mostrar à sociedade que funcionamos dentro de um nível considerado básico”, afirma a assistente social Julia Childs. Ou seja, o odor corporal tornou-se um sinal (involuntário) da nossa apresentação pública.

Curiosamente, muitos dos perfumes de luxo mais vendidos incorporam notas musky — ou seja, almiscaradas — que remetem para o nosso cheiro corporal mais primal. Marcas como Le Labo, Maison Margiela ou Tom Ford exploram esta ambiguidade: um aroma que, num contexto, pode ser sensual; noutro, desagradável.

O problema é quando o “natural” se impõe aos outros.

A ciência confirma que o odor corporal é moldado por fatores como a alimentação, o stress, e sobretudo, pela interação entre o suor e as bactérias da pele. Estudos publicados pelo National Institutes of Health (NIH) demonstram que o cheiro pode comunicar estados emocionais — como ansiedade — e até influenciar percepções sociais, nomeadamente autoestima.

Apesar de o olfato ser um sentido altamente subjetivo, há limites sociais que moldam o que é ou não aceitável.

“Aquilo que escolhemos para o nosso corpo deve considerar o impacto nos outros”, defende Julia Childs. E vai mais longe: “Ignorar o efeito do nosso cheiro pessoal nos que nos rodeiam pode ser uma violação de limites.”

Neste sentido, fala-se até em consentimento olfativo — uma ideia ainda pouco debatida, mas que coloca o odor no mesmo campo de outras formas de comunicação não verbal. Afinal, tal como não aceitamos que nos toquem sem permissão, talvez também devêssemos refletir sobre a forma como invadimos (ainda que sem querer) o espaço sensorial dos outros.

Não se trata de impor uma norma rígida, mas sim de reconhecer que, no espaço público, o cheiro é uma forma de comunicação. Tal como escolhemos cuidadosamente a roupa ou o tom de voz, o cuidado com o odor corporal pode (e deve) ser entendido como parte da nossa marca pessoal.

Num mundo cada vez mais atento à empatia, diversidade e respeito mútuo, talvez seja hora de encarar o desodorizante não apenas como um produto de higiene, mas como uma escolha socialmente consciente.


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