Carne cultivada pode ser o futuro? O que significa e que desafios enfrenta para se tornar alternativa

Se nunca ouviu falar em carne cultivada, provavelmente parecer-lhe-á algo estranho. O que é isto da carne cultivada se sempre fomos habituados à carne de origem animal? Em junho de 2023, o Departamento da Agricultura dos EUA aprovou a produção e a venda de carne de frango criada em laboratório por duas empresas – a Upside Foods e a Good Meat – que iriam, inicialmente, funcionar em parceria com um restaurante.

O objetivo era tornar as carnes criadas em laboratório apelativas ao consumidor e disponibilizá-las em supermercados e restaurantes. As chamadas carnes cultivadas implicam, segundo explicou David Kaplan, diretor do Tufts University Center for Cellular Agriculture, “colher células de animais que normalmente produzem carne para nós e utilizá-las como motor para fazer crescer a carne fora do animal”. 

De acordo com Claire Bomkamp, diretora científica do cultivo de carne e peixe do Good Food Institute, esta carne é “igual à carne tradicional”, mas “sem um animal na equação”.

Mas que desafios enfrenta para se tornar, de facto, uma alternativa alimentar à carne tradicionao?

De acordo com o jornal “Expansión”, aprimorar a tecnologia, reduzir os custos e adaptar a legislação são alguns dos principais desafios enfrentados pela carne cultivada.

De acordo com um relatório da consultora Systemiq para a organização Good Food Institute (GFI), esta indústria poderia gerar entre 20 e 85 mil milhões de euros anuais na Europa e criar até 90 mil novos empregos qualificados até 2050, mas há que ter em conta o desenvolvimento tecnológico e custos de produção.

A carne cultivada é obtida a partir de células extraídas por meio de biópsias, que se desenvolvem num reator biológico até formar tecido muscular. No entanto, conforme aponta Ana Torrejón, especialista em microbiologia do centro tecnológico Ainia, o grande desafio está no meio de cultura, responsável por 90% do custo total.

“São necessários novos métodos para fabricar fatores de crescimento de maneira económica”, explicou. Além disso, alcançar uma produção em escala industrial exige recursos de grande porte, o que aumenta as dificuldades.

Segundo o relatório da Systemiq, a União Europeia precisaria investir 5 mil milhões de euros por ano até 2050 para impulsionar esta tecnologia. Destes, 500 milhões deveriam vir de fundos públicos.

Quanto à regulação, atualmente, a carne cultivada só é aprovada para consumo em Hong Kong, Singapura e Estados Unidos. Na União Europeia, a legislação aplicável é o Regulamento 2015/2283 sobre novos alimentos, sendo este um processo que pode levar pelo menos 18 meses para ser concluído. Em julho de 2024, a empresa francesa Gourmey foi a primeira a solicitar a aprovação da Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA) para comercializar foie gras cultivado.

Outro desafio a ter em conta é a sua percepção para o consumidor como uma alternativa acessível e competitiva em termos de preço e desempenho em relação à carne convencional.